São Paulo, domingo, 10 de dezembro de 1995
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COMO SOBREVIVI AOS ANOS 50

O "rapaz" Greta Garbo sempre de olho nas moças

GORE VIDAL

Minha primeira viagem a Hollywood na condição de roteirista. Instalei-me no Chateau Marmont e neste hotel encontrei Paul Newman e Joanne Woodward à beira da pequena piscina oval. "Parece um umbigo cheio de suor", teria eu dito, segundo Walter Slezak, o rotundo ator austríaco. Havia vários bangalôs em torno da piscina. Num deles morava Nicholas Ray, preparando "Juventude Transviada" e namorando abertamente o adolescente Sal Mineo, enquanto o macilento James Dean entrava e saía sorrateiramente, irreconhecível por trás dos óculos de lentes grossas que distorciam seus olhos míopes. Também ele viera da televisão, daquela fase que já começava a ser chamada de "áurea", o que me lembra um comentário de Randall Jarrell: segundo ele, por mais áurea que seja uma era, sempre haverá quem reclame que nela tudo está amarelado demais. Seja como for, todos nós trabalhamos nela. De início, meus amigos escritores-escritores me olhavam com desdém; depois, um por um, furtivamente, vinham me perguntar se eu não poderia colocá-los em contato com um agente ou produtor. Até mesmo James Baldwin me fez apresentá-lo ao diretor de histórias de Studio One. Enquanto isso, à medida que minhas peças eram transmitidas em rápida sucessão, Latouche comentava, um tanto azedo: "Quem diria que você ainda ia ser o Lope de Vega da televisão!".
Paul já tinha feito um filme, e Joanne também. Ele ainda estava casado com sua primeira mulher, com a qual tivera três filhos. Joanne estava agora esperando que ele ficasse livre para casar-se com ela. Haviam se conhecido numa peça de William Inge chamada "Picnic". Inge era um alcoólatra "convalescente" que tivera um caso rápido com Tennessee. Tendo visto o "Pássaro" (era assim que eu chamava Tennessee) trabalhando, ele concluíra que escrever para o teatro era uma coisa facílima. Assim, escreveu cinco peças de sucesso uma depois da outra, talvez um recorde, o que muito irritou o Pássaro. "La Belle" -era assim que ele chamava Inge- "não falha nunca".
De modo geral, era muito agradável ser jovem e trabalhar na indústria cinematográfica naquela época; isto é, era agradável para nós, os últimos atores e escritores contratados; para os estúdios a situação não era tão agradável assim. Dez anos depois todo o sistema entraria em colapso; os estúdios, outrora todo-poderosos, se limitariam a alugar espaço para os produtores, agora independentes, os quais fariam cada vez menos filmes.
Naquele inverno, eu, Paul, Joanne e Howard alugamos juntos uma casa na colônia da praia de Malibu. Cada um de nós tinha seu carrinho. Paul ia para a Warners ao nascer do sol, pois este estúdio ficava no longínquo vale de San Fernando. Eu era o segundo a partir, rumo à MGM, em Culver City. Por fim, Joanne ia com toda a tranquilidade para a Twentieth-Century Fox, que ficava em Beverly Hills, perto dali.

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