São Paulo, domingo, 10 de dezembro de 1995
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Paralisação é marcada por falta de politização

VINICIUS TORRES FREIRE
DE PARIS

Governo e oposição tentam até agora despolitizar o quanto podem o conflito social que paralisa a França há mais de duas semanas e levou 1 milhão de pessoas às ruas na quinta-feira passada.
Mesmo líderes da oposição, sindical e partidária, procuram circunscrever os protestos a um debate sobre o modo de gerência da Previdência Social.
Não são colocados em questão o governo conservador do premiê Alain Juppé, não foi proposta uma reformulação do pacto social francês e nem mesmo é contestado o tratado de unificação européia, que exige cortes drásticos de despesas públicas.
"O governo coloca em perigo a idéia da unificação quando a associa à reforma da proteção social com corte de gastos. Mas é claro que há uma retomada do debate sobre do tratado de unificação", diz Marc Blondel, líder da Força Operária, uma das duas centrais sindicais que lidera a greve.
O ex-primeiro-ministro socialista Michel Rocard (1988-1991) considera que o erro de Juppé foi essencialmente de forma.
"Não é possível fazer todas as reformas de uma vez, ao mesmo tempo, em primeiro lugar. Depois, o governo não se propôs a negociar desde o início. Em terceiro lugar, o aumento das taxas será excessivo para os mais pobres", diz.
Em entrevista à revista "Nouvel Observateur" (pró-socialistas), o secretário-geral do Partido Socialista, Lionel Jospin, e Jacques Delors (ministro socialista da Economia, 1981-84) se dizem de acordo com a necessidade de certas reformas de Juppé.
Como Rocard, criticam o modo como foram propostas, o aumento das taxas sociais, e sugerem uma discussão caso a caso dos problemas das estatais. Como o governo começou a fazer, para administrar a crise e dividir os grevistas.
Os socialistas ainda assim pedem a retirada do plano Juppé. Mas consideram que não devem se identificar com o movimento sindical nem criticam a líder de uma das três grandes centrais, Nicole Notat, da Conferência Francesa Democrática do Trabalho, que dá "apoio crítico" ao plano Juppé.
A palavra mais radical de todo o movimento é a de Blondel. "Ficou claro para os franceses que se pretende transferir o custo da proteção social das empresas para os salários", diz.
Para o líder da FO, isso vai fazer com que os protestos e greves aumentem na semana que vem e ganhem o setor privado. No entanto, os sindicalizados da FO entre os ferroviários, categoria que lidera a greve, sentaram com o governo para negociar o plano de reestruturação da estatal das ferrovias.
O movimento dos estudantes refluiu desde domingo passado, quando o governo ofereceu um plano alternativo de financiamento e um parte do número de professores extras reivindicados.
Os intelectuais estão distantes. O grupo que teve a participação mais incisiva, muitos deles próximos dos socialistas, assinaram manifesto pelas reformas, que julgam economicamente inevitáveis.

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