São Paulo, domingo, 10 de dezembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Melhor prevenir

Numa agenda de ampla reforma do Estado, uma das principais tarefas é a da rápida modernização de suas instituições, para cujo sucesso são fundamentais programas que prevejam uma completa requalificação profissional de seus agentes.
Para tanto não se pode mais desprezar o grande desenvolvimento da psicologia e da psiquiatria neste século, em resposta a demandas cada vez maiores por uma qualidade de vida integral, e não só material.
Em que pese os habituais exageros que acompanham os modismos, a recente preocupação dos norte-americanos com a "inteligência emocional" de empregados aponta para uma necessária revalorização da dimensão psicológica no preparo profissional de um indivíduo, tradicionalmente relegada ao plano secundário das idiossincrasias e suscetibilidades pessoais.
Por isso, ao lado das indignadas e necessárias denúncias de abusos cometidos por certos policiais militares nos últimos anos, há que se levar também em consideração tanto o despreparo psicológico quanto a falta de programas preventivos e terapêuticos que limitem ao máximo as inclinações ao abuso de poder constatadas periodicamente entre alguns membros da corporação.
A violência eventualmente perpetrada pela PM -como na ação que recentemente terminou com a morte de dois assaltantes e dois reféns em São Paulo- não pode ser atribuída, pura e simplesmente, a uma suposta "má índole" de seus agentes. O elevado grau de risco inerente a suas ações os torna altamente suscetíveis ao descontrole emocional e, consequentemente, a comportamentos exorbitantes.
Assim, seria de se esperar que o preparo do policial passasse também por um rigoroso condicionamento psicológico de caráter preventivo, e por um cuidadoso acompanhamento psicoterapêutico daquele que -muitas vezes, à revelia de seu poder de autocontrole- esteve envolvido em fatalidades, para que as sequelas da violência não o predisponham, ainda mais forçosamente, a reincidir no erro.

Texto Anterior: O outro lado do dólar
Próximo Texto: De fortunas e dúvidas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.