São Paulo, domingo, 10 de dezembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

De fortunas e dúvidas

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - O senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), presidente da chamada supercomissão que investiga o caso Sivam, quer, de todas as formas, chamar para depoimento o seu colega Gilberto Miranda (PMDB-AM).
Ótimo. Qualquer pessoa que enriqueça tão portentosamente como o senador, em prazo relativamente curto, deveria ser investigada. Aliás, não seria demais investigar-se todos os que enriqueceram muito mesmo em prazos bem mais longos.
Mas a investigação sobre Gilberto Miranda não pode servir de pretexto para que se desqualifiquem as suspeitas que o senador vem lançando sobre o Sivam.
Basta lembrar episódio relativamente recente, o do chamado escândalo do Orçamento. Quem fez as denúncias que detonaram o escândalo? Um corrupto confesso, no caso José Carlos Alves dos Santos, perito da própria Comissão de Orçamento.
Gilberto Miranda leva enorme vantagem sobre José Carlos: pode-se suspeitar de sua fortuna, mas ele não confessou, ao contrário de José Carlos, participação em maracutaia alguma.
Mais: de Gilberto Miranda, o que se diz (e ele assume) é que namora muitas mulheres. De José Carlos Alves dos Santos há suspeitas de outra natureza, bem mais grave: a de ter ordenado o assassinato de sua mulher, crime pelo qual está prestes a ser julgado.
Se um corrupto confesso e ainda por cima suspeito de assassinato tinha razão nas denúncias que resolveu fazer, por que não pode tê-las quem, por enquanto, tem o direito de gozar do benefício da dúvida, como qualquer outro mortal, milionário ou não?
Por isso, não se deveria confundir as coisas. Investigar Gilberto Miranda é saudável, até para o prestígio do Parlamento. Mas deixar que essa investigação prepondere sobre a outra, a do caso Sivam, seria um brutal equívoco. Até porque dúvidas por dúvidas, as que pairam sobre o Sivam não são, nem remotamente, menores do que as que cercam a fortuna do senador.
E, fortuna por fortuna, a do senador (avaliada em US$ 500 milhões) ainda é inferior à metade do custo do Sivam (US$ 1,4 bilhão, por baixo, por baixo).

Texto Anterior: Melhor prevenir
Próximo Texto: Acorda, presidente
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.