São Paulo, terça-feira, 12 de dezembro de 1995
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Escritor retrata perplexidade dos homens

MARILENE FELINTO
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Os personagens do escritor Cees Nooteboom são homens em estado de perplexidade, resultado de alguma interferência inesperada e enigmática no curso de um cotidiano de ceticismo e tédio.
No romance "Rituais", fatos corriqueiros são ritualizados, talvez para readquirirem o que perderam de sagrado e cerimonioso. O livro é estruturado em três partes, ou ritos, localizados no tempo nas décadas de 50, 60 e 70.
Por aí transita o protagonista Inni Wintrop, astrólogo diletante, "o homem mais solitário dos Países Baixos" e que, a partir da perda de um amor, questiona o absurdo da repetição diária de fenômenos em que já não vê sentido.
"A Seguinte História:" trata do caso de Hermann Mussert, um estudioso de línguas mortas e autor de guias de viagens. Certa noite ele vai dormir em seu quarto, em Amsterdã, e acorda em Lisboa.
A narrativa é a elaboração dessa espécie de delírio fantástico: "Eu diria que ele está sonhando nos últimos dois segundos de sua vida e, no sonho, vê Lisboa, o lugar para onde fez sua única viagem com a mulher que ele achava que amava", explica o autor, embora ressalte que é apenas uma hipótese.
Em sua busca, Mussert viaja pelos clássicos da literatura latina e por recantos longínquos da Terra (como a Amazônia) e do espaço (com a Voyager). O texto mistura um tom meio indolente de narrar com uma linguagem elegante e precisa nas definições dos estados de espírito meditativos de seus personagens. Filósofos por acaso, preocupados com a transformação dos estados e da matéria, quer pelos efeitos do sonho e do amor, quer pelos efeitos da morte.
(MF)

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