São Paulo, quinta-feira, 14 de dezembro de 1995
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Vacina pode bloquear efeitos da cocaína, diz estudo

DA REPORTAGEM LOCAL; COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Teste em camundongo pode ajudar no tratamento de dependentes
Uma vacina contra cocaína conseguiu eliminar os efeitos da droga em camundongos, segundo estudo publicado na edição de hoje da revista "Nature".
Segundo os pesquisadores, do Instituto de Pesquisas Scripps, Califórnia (EUA), a descoberta poderá ajudar no tratamento de dependentes da droga.
A estratégia usada pela equipe foi baseada na ação das vacina no organismo. Primeiro imaginaram a cocaína como uma espécie de micróbio invasor.
Depois, fabricaram uma vacina usando uma substância química similar a cocaína, que foi injetada em camundongos.
As células do sistema de defesa não reconheceram a proteína e passaram a produzir anticorpos.
"Os anticorpos circulam e agem como uma esponja, absorvendo a cocaína e não deixando a droga passar através da barreira sangue-cérebro", disse Kim Janda, um dos autores do estudo.
Segundo a equipe, a imunização só foi conseguida com a aplicação de doses da vacina 21 dias e 35 dias depois da primeira dose.
Os cientistas observaram uma redução de 77% nos níveis da droga no cérebro dez dias depois de os animais terem tomado a última vacina.
Depois de vacinados, os camundongos receberam doses de cocaína. De acordo com os resultados, os animais que haviam sido vacinados apresentaram o mesmo comportamento de ratos normais, o que levou os cientistas a concluir que a vacina conseguiu anular os efeitos psicoativos da droga.
Os pesquisadores não observaram mudança no comportamento dos ratos quando, depois de imunizados, aplicaram injeções de anfetamina. Segundo eles, a anfetamina age como a cocaína no organismo.
A cocaína tem a capacidade de prolongar a ação de uma substância -dopamina- que age na comunicação entre as células nervosas.
Em comentário na mesma revista, David Self, da Universidade Yale (EUA), diz que "alguns tratamentos convencionais para dependentes de cocaína se baseiam em drogas que bloqueiam a ação da dopamina ou da própria droga, mas esses tratamentos podem piorar a síndrome de abstinência".
Segundo ele, a nova técnica oferece vantagens porque a droga perdeu seus efeitos colaterais e envolveu somente poucas aplicações da vacina nos camundongos.
Mas acrescenta que, "em humanos, a imunização completa poderia levar meses ou anos".
A vacina poderia ajudar a desintoxicação, escreveu na revista.

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