São Paulo, quinta-feira, 14 de dezembro de 1995
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Quase todos amargos

CLOVIS ROSSI

Clóvis Rossi
SÃO PAULO - Uma empresa equatoriana especializada em pesquisas sobre o estado de ânimo da opinião pública resolveu sondar os humores dos latino-americanos.
Escolheu 15 países do subcontinente e foi perguntando qual o grau de satisfação de cada qual com a situação de seu próprio país. Não é que, no caso brasileiro, descobriu que a esmagadora maioria também não tem "um projeto de felicidade", defeito que o ministro das Comunicações, Sérgio Motta, atribuiu exclusivamente aos jornalistas?
Aliás, é justamente no Brasil que aparece o menor número de pessoas, digamos, felizes. São apenas 3% os brasileiros que acham que tudo vai bem por aqui. Uma porcentagem igual à encontrada no México, país que passa por uma baita crise, de todos conhecida.
Em todos os outros 13 países é maior a porcentagem dos satisfeitos. Inverta-se a questão e pergunte-se quantos acham que as coisas vão muito mal e é necessária uma "mudança radical". De novo, os brasileiros revelam ampla amargura: 58% não estão felizes com a situação do país em que vivem.
Porcentagem maior só no México, outra vez (60%), e no Equador (61%). Suspeito que, neste último caso, a infelicidade se deva à soma dos problemas sócio-econômicos habituais no mundo subdesenvolvido com o fato de que o vice-presidente teve de fugir do país e refugiar-se na Costa Rica, sob a suspeita de ser uma espécie de Fernando Collor andino.
Na média das opiniões dos 15 países, dá 8% de pessoas felizes, quase o triplo portanto do que se encontrou no Brasil. Já a média dos que pedem mudanças radicais vai a 45%, bem menos, como se vê, dos 58% de brasileiros que têm tal ponto de vista.
Note-se que a comparação não é com paraísos primeiro-mundistas, tipo Suécia, Alemanha, Suíça etc. Há mais brasileiros amargos do que bolivianos, porto-riquenhos, dominicanos, para não falar de argentinos e uruguaios, tradicionalmente a classe média da pobre América Latina.
Pena que as autoridades pareçam tão pouco atentas aos humores de seus súditos.

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