São Paulo, sexta-feira, 15 de dezembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FHC apoiou política chinesa, diz jornal

MARTA SALOMON
ENVIADA ESPECIAL A PEQUIM

A política de direitos humanos na China quase criou um incidente diplomático na visita do presidente Fernando Henrique a Pequim.
Um dia após a condenação do dissidente Wei Jingsheng a 14 anos de prisão, acusado de promover um movimento democrático de oposição ao governo, Fernando Henrique apareceu ontem no jornal oficial "China Daily" como defensor da política chinesa de direitos humanos.
O jornal circula em inglês com tiragem de 150 mil exemplares e apresenta o relato das autoridades chinesas sobre os encontros oficiais que o presidente manteve na quarta-feira.
O jornal diz que o presidente Jiang Zemin agradeceu ao colega brasileiro o apoio à política de direitos humanos.
"O presidente Zemin agradeceu a manifestação do Brasil em 1993", explicou ontem FHC. Há dois anos, o Brasil votou contra a proposta de punição da China por violação dos direitos humanos. Foi durante a reunião da ONU (Organização das Nações Unidas), em Genebra.
Com a ajuda do voto brasileiro na Comissão de Direitos Humanos da ONU, os Estados Unidos não puderam levar adiante a proposta de condenação à política do governo chinês.
O presidente confirmou que deu apoio a dois pleitos da política externa chinesa: o ingresso na OMC (Organização Mundial do Comércio) e a reintegração de Taiwan, da maneira como foi relatado pelas autoridades do país.
"Nós continuamos na posição de defender os direitos humanos", afirmou o presidente, numa forma de desmentido às informações divulgadas pelos chineses.
FHC insistiu que o Brasil tem uma política "clara" na área e disse que não cabe ao Brasil discutir assuntos internos da China.
Assuntos internos
"O Brasil tem uma posição internacional nessa matéria, mas nós nunca entramos em assuntos internos de outros países."
"Não vamos entrar nisso", reiterou à noite o presidente, num jantar na embaixada brasileira em Pequim, indicando a determinação do governo de não criticar a prisão de Wei Jingsheng.
Ontem, o secretário da SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos), Ronaldo Sadenberg, que integra a comitiva presidencial na viagem à Ásia, disse que o governo reconhece que tem problemas internos na área de direitos humanos, como os que foram apontados recentemente por uma missão da OEA (Organização dos Estados Americanos).
Sardenberg alega que a missão da OEA visitou o Brasil a convite do próprio governo, que aguarda o desdobramento da ação da OEA. A instituição cobra investigações sobre as circunstâncias das mortes dos desaparecidos políticos durante o regime militar.

LEIA MAIS
sobre direitos humanos na China à pág. 2-12

Texto Anterior: Petroquímica pode sair da privatização
Próximo Texto: Regime não aceita oposição
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.