São Paulo, sexta-feira, 15 de dezembro de 1995 |
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"Sem Fôlego" tira humor de pequenas causas
MARCELO REZENDE
Produção: EUA, 1995, 90 min. Direção: Wayne Wang e Paul Auster Elenco: Harvey Keitel, Jim Jarmush, Madonna, Michael J. Fox Onde: a partir de hoje nos cines Lumière 1, Arouche A e Cinearte 1, Morumbi 4 e circuito Em "Sem Fôlego", que estréia hoje na cidade, existe a fascinação de seus autores -o escritor americano Paul Auster e o cineasta Wayne Wang- por dois temas: a diferença e a repetição. Retomando um mesmo personagem do trabalho anterior da dupla, "Cortina de Fumaça", onde Auster aparecia como roteirista, o filme tenta recriar, mais uma vez, um microcosmo do mundo em uma tabacaria. Um mundo que é organizado por um homem (Harvey Keitel, mais uma vez brilhante), um gerente que se encontra sempre envolvido nas vidas, problemas e desejos de seus consumidores de charutos e cigarros. A ligação entre os dois filmes se estabelece na volta a um mesmo cenário e personagem, que são trabalhados segundo uma idéia cara a toda a ficção criada por Auster: a existência do fantástico em um cotidiano regido pelo acaso, onde o que há de necessário é um certo resgate do humanismo. Ou de seus valores. Mas, ao contrário de "Cortina", que se estabelecia como um drama, "Sem Fôlego" trilha o caminho da comédia. Não mais se trabalha histórias de poucos personagens de forma quase minimalista, com a aproximação e o cruzamento entre elas. O que se coloca no lugar aqui é uma imensa galeria de fatos, ou de pura conversa, que vão, pouco a pouco, se misturando com dados reais sobre o bairro nova-iorquino do Brooklyn, como o número de buracos existentes nas ruas do local. Há, portanto, um tom semidocumental, onde a ficção divide espaço com moradores que aparecem em depoimentos no filme, ao lado dos astros Madonna e Lou Reed. E é essa avalanche de famosos em rápidas aparições que faz com que o filme tenha um desconfortável ar de oportunismo de seus participantes, um pouco como nos últimos filmes de Robert Altman. O que "Sem Fôlego" tem de mais positivo ainda é o talento de Auster e a exatidão de Wang para trabalhar -por vezes de forma magistral- cada situação apresentada, como na história do homem que decide fumar seu último cigarro ou da mulher que é roubada nas ruas do bairro. Situações que parecem nos lembrar que o filme é antes de tudo uma experimentação, feita com muito humor, compartilhada pelo escritor, o cineasta e seus atores. Como cinema, "Cortina de Fumaça" é um filme melhor acabado, que termina dando conta de suas pretensões. Mas de modo algum deve ser comparado a "Sem Fôlego", que, apesar das semelhanças, se sustenta naquilo que possui de particular: o riso. Texto Anterior: Deus reconhece nossas intenções Próximo Texto: "Justiça" é drama judiciário kafkiano Índice |
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