São Paulo, sexta-feira, 15 de dezembro de 1995 |
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MAM exibe fragmentos do corpo em exposições
FERNANDA DA ESCÓSSIA
Onde: Museu de Arte Moderna (av. Infante D. Henrique, 85, Rio; tel.: 021/210-2188) Quando: de terça a domingo, de 12h às 18h Ingresso: R$ 2 Duas exposições em cartaz no MAM (Museu de Arte Moderna) se complementam para mostrar a fragmentação inusitada do corpo humano e a transformação de fragmentos do corpo em seres humanos. Na primeira exposição, o artista plástico baiano Mário Cravo Neto, 47, traz closes fotográficos de rostos, corpos, barrigas grávidas e torsos, que o artista define como um diálogo com o homem e a natureza. "É uma influência do meu trabalho como escultor. Não é um mero retrato, mas um olhar introspectivo e poético para cenas do meu mundo", afirma Mário Cravo Neto. Na segunda mostra, o também baiano Sante Scaldaferri, 67, transforma em figuras humanas os ex-votos -pedaços de corpos que os fiéis do Nordeste depositam nos altares dos santos para pedir milagres ou curas. Criador dos cenários de "O dragão da maldade contra o santo guerreiro", de Glauber Rocha, Scaldaferri diz que se interessa pelos ex-votos pelo que eles têm de religiosidade, misticismo e arte popular. Em 1980, viu em Canindé, interior do Ceará, seu primeiro ex-voto de corpo inteiro: um boneco de madeira, deixado por um fiel na igreja de São Francisco. "Esperei três horas no sol quente, esperei que o guarda fosse embora e subornei o guarda, mas trouxe o ex-voto. Desde então passei a retratá-los inteiros, nas cenas humanas", afirma. Hoje, seus ex-votos vivem situações onde se misturam pecados e alegrias. O artista os compara aos demônios presentes em pinturas religiosas nas igrejas. Scaldaferri usa em todos os seus trabalhos a técnica milenar da encáustica, uma mistura de cera de abelha, verniz e pigmentos coloridos aplicada sobre a tela. Segundo ele, essa técnica não absorve luz e é mais durável, não exigindo iluminação especial. O próprio Scaldaferri prepara a mistura. Mário Cravo Neto também usa um estúdio especial para fotografar seus modelos: o fundo é uma lona de caminhão, sobre o qual posam todos os modelos. "Comecei esse projeto quando tive um acidente, há vinte anos, e fiquei um ano sem andar. Aí comecei a colocar no estúdio o que passava pelo mundo, até a lona de caminhão", afirma. Texto Anterior: "Justiça" é drama judiciário kafkiano Próximo Texto: CPI termina com acusações sem provas Índice |
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