São Paulo, sexta-feira, 15 de dezembro de 1995
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Virtuoses rendem homenagem a Hendrix

LUIZ ANTÔNIO RYFF
DA REPORTAGEM LOCAL

Disco: In from the Storm
Artistas: London Metropolitan Orchestra, Santana, Sting, John McLaughin, Steve Vai, Brian May, Paul Rodgers, Stanley Clarke, Buddy Miles, Noel Redding, Billy Cox e outros
Lançamento: BMG-Ariola
Quanto: R$ 20 (o CD, em média)

Discos-tributo se tornaram uma maneira fácil de ganhar dinheiro na indústria fonográfica. Basta garimpar o repertório de um artista popular e juntar uma dúzia de músicos para interpretá-lo. Tanto faz se estes são famosos ou não.
A avalanche de produções do gênero é tão volumosa que, no exterior, algumas lojas de disco têm compartimentos reservados para os tributos.
Quase tudo é material relevante apenas para aficionados. Para o restante, separar o joio do trigo é tarefa árdua.
Em "In from the Storm", que revisita a obra do guitarrista Jimi Hendrix, há trigo suficiente para fazer vários pãezinhos -apesar da presença suspeita da London Metropolitan Orchestra.
Certamente porque o padeiro que cuidou da produção do disco foi Eddie Kramer, que fez o mesmo em alguns discos de Hendrix.
Além disso, três músicos que acompanharam Hendrix abrilhantam o álbum: o baixista Noel Redding, que tocou na Jimi Hendrix Experience, o baixista Billy Cox e o baterista Buddy Miles, que participaram da Band of Gypsies.
É lógico que a qualidade dos instrumentistas ajuda: os guitarristas Steve Vai, Santana, John McLaughin e Brian May; os baixistas Stanley Clarke, Sting e Bootsy Collins; o baterista Cozy Powell e o vocalista Paul Rodgers, entre outros.
Um ponto positivo é que a orquestra, salvo em raros momentos, fica em segundo plano, fazendo fundo para os músicos brilharem.
Com essa fórmula, "In from the Storm" contorna o principal problema de revisitar um repertório por demais batido e, originalmente, já excelente.
Com versões respeitosas, mas inspiradas, o disco consegue sobressair em meio a vários lançamentos sobre Hendrix em 1995 -25º aniversário de sua morte.
O melhor do disco é "Purple Haze", clássico hendrixiano que ressurge ainda mais vigoroso em uma levada funk irresistível.
O resultado primoroso se deve muito à voz de Buddy Miles, ao tecladista Bernie Worrel e ao baixista Bootsy Collins -antigos parceiros no Parliament/Funkadelic, trupe funk liderada pelo pirado George Clinton.
Outras versões não ousam tanto, como "Spanish Castle Magic", queridinha de bandas heavy que não sai muito desse perfil, apesar de contar com Santana, Stanley Jordan e o baterista Tony Williams.
Talvez a faixa mais surpreendente seja "The Wind Cries Mary", com um irreconhecível Sting cantando como nunca fez antes na vida. O guitarrista John McLaughin, que o acompanha, deixa a desejar. Seu solo é rápido, mas soa embolado e pouco melódico.
Outros guitarristas se saem melhor. É o caso de Steve Vai. Menos preocupado com velocidade do que habitualmente, Vai constrói um solo melódico e inspirado em "Drifting". E ainda repete o bom trabalho em "Bold as Love", revivida pela voz blues de Paul Rodgers -que já gravou um disco-tributo para Hendrix.
Mas se há altos, há baixos. O gaitista Toots Thielemans parece deslocado no meio de tantos roqueiros ao dar sua versão de "Little Wing". Eric Clapton e outros já fizeram melhor.
Ao fim, entretanto, "In from the Storm" se assemelha mais a uma homenagem sincera do que a um caça-níquel.

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