São Paulo, sexta-feira, 15 de dezembro de 1995
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Disco traz Marvin Gaye nos anos 90

ERIKA PALOMINO
COLUNISTA DA FOLHA

"Inner City Blues" está entre os discos obrigatórios de 95. Faz a linha "tributo" da maneira mais nobre e pop. Trata-se de dez faixas clássicas do repertório do soul-man norte-americano Marvin Gaye regravadas por alguns dos nomes do momento, como Massive Attack e Neneh Cherry.
Gaye é uma das pedras fundamentais relatados à gravadora Motown -principal difusora da black music americana. Foi de lá que o cantor e compositor detonou sucessos como "I Heard it Through the Grapevine", "Trouble Man" e "What's Going On" -este transformado em verdadeiro hino da consciência política americana dos anos 60.
Gaye foi um porta-voz de várias causas e as refletia em sua própria vida e trajetória. Como no caso de "Trouble Man", em que a agitação própria da juventude o transformava no "homem-confusão" do título, arranjando encrencas na gravadora, com namoradas, músicos e, depois, excessos de bebida e de drogas.
Essas diferentes fases de Marvin Gaye estão em "Inner City Blues". Nona Gaye, cantora e filha do artista, abre o disco com a faixa-homenagem que batiza o trabalho. Bono, vocalista do U2, entra com "Save the Children". Mas a coisa só começa a esquentar mesmo com "Let's Get it On", com o grupo vocal Boyz II Men.
A escolha é adequada, como as demais. Stevie Wonder empresta alegria e júbilo à deliciosa "Stubborn Kind of Fellow", enquanto o grupo de pop-gospel Sounds of Blackness converte qualquer um na dobradinha de "God is Love" com o hit "Mercy Mercy Me".
As estrelas do álbum: Madonna -sempre, com o Massive Attack na sussurrante balada "I Want You"- e Neneh Cherry, que sai consagrada com "Trouble Man".
O CD de "Inner City Blues" tem ainda belo trabalho de programação visual e biográfico, com fotos pouco conhecidas de Gaye e a história de sua vida contada contextualizada e sem pieguices.
O que falta no CD é a chamada fase sexual, detonada no início dos anos 80, quando Gaye surpreendeu toda a indústria fonográfica com a bomba "Sexual Healing". Os beats originais, quentes e definitivos desse álbum são sampleados e copiados até hoje.
Em 83, depois de uma discussão, Gaye foi morto por seu pai, aos 44 anos. "Inner City Blues" é o passaporte para que as novas gerações conheçam a obra de um homem que viveu seu tempo.

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