São Paulo, sábado, 16 de dezembro de 1995
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Justiça julga conta 'fantasma'

XICO SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

A Justiça Federal vai julgar no início do próximo ano as pessoas acusadas de movimentar uma conta bancária "fantasma" para abastecer a campanha eleitoral de Antônio Carlos Magalhães ao governo da Bahia, em 1990.
O caso tramita na 2ª Vara da Justiça Federal em Salvador, na qual chegou em outubro de 1994, depois de uma denúncia feita pelo Ministério Público Federal. Os principais envolvidos no caso já foram interrogados.
"Não há a menor dúvida: a conta era fantasma e serviu à campanha eleitoral", disse à Folha a procuradora Mariane Guimarães de Mello, autora da denúncia.
Movimentar conta bancária "fantasma" é crime de falsidade ideológica, como ficou patente no julgamento que o STF (Supremo Tribunal Federal) fez no caso PC Farias -condenado a sete anos de prisão por esse motivo.
A assessoria do senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) reafirma que os recursos da movimentação bancária não beneficiaram a campanha do então candidato ao governo do Estado.
A conta, segundo o Ministério Público, foi aberta em nome do casal fictício Hugo Tavares Freire Filho e Heloísa Góes Freire, no Citibank de Salvador.
A direção do Banco Econômico, assim como no caso da pasta rosa, tem participação importante. A Polícia Federal acusou o banco de apagar microfilmes e ajudar ACM durante as investigações.
Os microfilmes registravam a movimentação de cheques da TV Bahia, cliente do Banco Econômico, que foram emitidos para a conta "fantasma" do Citibank.
Além disso, segundo a denúncia, o banco do empresário Ângelo Calmon de Sá serviu também para a abertura de uma outra conta, que seria também "fantasma", para ajudar a movimentação dos recursos da campanha eleitoral.
Esta conta tinha como titular um personagem fictício chamado Esmeralda Ferreira da Silva. Na ciranda financeira constatada pelo Ministério Público, essa "fantasma" recebia constantemente depósitos do também "fantasma" Hugo Tavares Freire Filho.
Na investigação da origem dos recursos, segundo a denúncia, foi descoberta uma doação da empreiteira Odebrecht.
Os acusados pelo Ministério Público na montagem da conta "fantasma" são Renato Ângelo Pereira Tourinho (ex-gerente do Citibank), Marco Antonio Leal de Souza e Isaac Chaves Edington (ex-diretores da TV Bahia) e Cláudio Chagas Freitas (dono de uma produtora de TV).
Nos seus depoimentos, todos negaram que os recursos da conta tivessem como finalidade abastecer a campanha eleitoral.
Segundo os documentos em poder da Justiça Federal, o "fantasma" recebeu, somente da construtora Odebrecht, depósitos que somam US$ 1,8 milhão. A conta foi movimentada entre julho de 1990 e janeiro de 1991.

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