São Paulo, sábado, 16 de dezembro de 1995 |
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A conta da saúde
JOSIAS DE SOUZA BRASÍLIA - Estamos em um hospital público de Belo Horizonte. O caso que se relatará, embora bizarro, é verdadeiro.Um menino, rosto de 12, 13 anos, entra no consultório de um médico, 74. Veio para consultar-se. Conversa vai, conversa vem, o doutor descobre que seu paciente é engraxate. Pergunta quanto costuma cobrar por engraxada. O preço é R$ 2,00. "Então somos colegas. Ganho a mesma coisa por consulta." E o garoto: "Mas eu ainda tenho as gorjetas". A história não é propriamente nova. Foi relatada pelo próprio médico mineiro a Adib Jatene. O ministro não perde ocasião de propagá-la. Planeja-se agora um reajuste no valor da tabela do Sistema Único de Saúde. Uma consulta simples passaria de irrisórios R$ 2,08 para ainda miseráveis R$ 3,40. A atmosfera de penúria que contamina o ambiente hospitalar dá maior visibilidade a uma anomalia contra a qual Jatene vem se debatendo: sem o saber, o contribuinte brasileiro ajuda a enriquecer os donos de empresas de planos privados de saúde. Hospitais públicos de todo o país atendem mensalmente a vários pacientes que possuem planos de saúde. Mas empresas como Golden Cross, Amil, Blue Life e que tais não são chamadas a ressarcir as despesas. Em Brasília, por exemplo, são comuns os casos de pacientes que, atendidos em clínicas particulares, são remetidos para o Hospital de Base, melhor equipado para os casos mais graves. "Acontece a toda hora", diz Antônio Carlos Barroso, da direção do hospital. Organizados sob a forma de fundações, alguns poucos hospitais, entre eles o Incor, cobram ressarcimento dos convênios privados. Mas a grossa maioria remete a conta para o Tesouro. A pedido de Jatene, o Palácio do Planalto enviará ao Congresso, no início de 96, projeto que autoriza os hospitais públicos a cobrarem ressarcimento dos convênios de saúde. A proposta já foi aprovada pelo Conselho Nacional de Saúde. Texto Anterior: De ONGs e partidos Próximo Texto: Tempo de equívocos Índice |
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