São Paulo, quinta-feira, 21 de dezembro de 1995
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Para ACM, governo não deve ser 'submisso'

LUCAS FIGUEIREDO; RAQUEL ULHÔA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) disse ontem que o governo e o Congresso "não podem ser submissos" em relação aos interesses dos EUA no projeto Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia).
ACM é presidente Comissão de Relações Exteriores do Senado e da supercomissão que investiga denúncias de irregularidades no Sivam. Ele referia-se as declarações do embaixador dos EUA no Brasil, Melvyn Levistky, em defesa da participação da empresa norte-americana Raytheon no projeto.
"Querem pressionar o governo. Resta saber se o governo vai aceitar a pressão", declarou o senador à Folha, por telefone, da Bahia.
Cobrança
Antes de saber das críticas do presidente Fernando Henrique Cardoso às declarações de Levistky, ACM cobrou uma posição do governo. "Esse senhor (FHC) deve chamar a atenção do embaixador dos EUA quando chegar de viagem". O senador disse que vai fazer um protesto formal quando retornar a Brasília.
O presidente do Congresso, José Sarney (PMDB-AP), também criticou o embaixador dos EUA. "Não conheço as obrigações que o Brasil assumiu em nível internacional. Mas as declarações do embaixador não são oportunas e constituem interferência, em uma hora que o Congresso está analisando o assunto", disse.
O senador afirmou que a tendência do Senado é de não aprovar a manutenção da Raytheon como fornecedora dos equipamentos do Sivam. "Pelo clima existente na Casa, o assunto é difícil", disse.
Cabe ao Senado decidir se concede autorização para o governo brasileiro contrair empréstimo externo de US$ 1,4 bilhão para instalar o sistema de radares.
Na pauta
Sarney disse que FHC vai incluir o pedido de autorização para o empréstimo na pauta da convocação extraordinária do Congresso (8 de janeiro a 14 de fevereiro). "O presidente quer uma solução definitiva", afirmou.
A Folha apurou que as declarações do embaixador dos EUA repercutiram mal entre os diplomatas do Itamaraty. A avaliação é que Levitsky desrespeitou uma regra básica da diplomacia: não se pronunciar sobre temas internos de outros países, ainda mais quando se trata de assuntos polêmicos.
Diplomatas comentaram, reservadamente, que FHC já havia dito pessoalmente ao secretário do Tesouro dos EUA, Robert Rubin, que o Sivam é uma questão interna brasileira.
A conversa entre o presidente brasileiro e Rubin aconteceu em São Paulo, no início deste mês.
Contrato
O diretor da Raytheon Edmund Woolen disse ontem à Folha que até agora o governo brasileiro "não deu concordância formal" de que irá prorrogar o contrato de fornecimento de equipamentos para o Sivam.
O contrato com a Raytheon foi assinado em maio, mas não entrou em vigor porque dependia da autorização do Senado. Em novembro, o contrato venceu e foi prorrogado até o próximo dia 25 de dezembro.
(Lucas Figueiredo e Raquel Ulhôa)

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