São Paulo, quinta-feira, 21 de dezembro de 1995
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Exército pede fim das 'crises estimuladas'

RUI NOGUEIRA
COORDENADOR DE PRODUÇÃO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro do Exército, Zenildo de Lucena, pediu ontem o fim das "crises estimuladas" e disse que "é tempo de conter o derrotismo" e "agir com racionalidade".
Ele definiu a crise como ato de "marcar passo diante de assuntos menores". Zenildo fez ontem a primeira referência oficial das Forças Armadas à crise em discurso no almoço de confraternização de final de ano, que reuniu todo o comando do Exército, mas não citou nem os personagens (FHC e Luís Eduardo) nem os Poderes envolvidos (Executivo e Legislativo).
O pronunciamento no 1º Regimento de Cavalaria de Guardas reforçou a posição de Zenildo de Lucena como principal aliado do presidente Fernando Henrique Cardoso entre os membros das Forças Armadas.
"(O momento é de facultar) ao governo e ao Congresso o espaço e a tranquilidade imprescindíveis à implementação das mudanças", disse o ministro após apelar para a "união" e contra a "discórdia".
"O meu discurso não teve nada de subliminar, é tudo explícito. É aquilo mesmo", afirmou ao ser questionado sobre para quem eram dirigidos os recados de sua fala.
Zenildo citou várias das preocupações relacionadas por FHC como prioridades de governo -"desigualdades sociais, combate à inflação, reforma administrativa, ajuste e globalização da economia"-, como sendo preocupações do Exército. Ao longo deste ano, Zenildo foi o ministro militar mais consultado pelo presidente.
Ele desempenhou um papel importante de consultor e articulador na questão, por exemplo, da lei dos desaparecidos políticos. Contra a vontade de alguns generais, que contestavam o pagamento de indenizações a familiares dos desaparecidos, Zenildo manteve-se favorável à lei e chegou mesmo a aceitar a passagem antecipada para a reserva do comandante militar da 7ª Região Militar (Recife), general Murillo Tavares da Silva.
Tanto Zenildo como o chefe do Estado-Maior do Exército, general Délio de Assis Monteiro, classificaram 95 como um ano em que a Força sofreu "alguns percalços".
O ministro citou como exemplo o caso das armas importadas por colecionadores e que foram apreendidas por agentes da PF (Polícia Federal), em julho deste ano, no aeroporto do Galeão.
A atitude da PF deixou o Exército na posição suspeita de ter autorizado uma importação de 369 armas que serviriam para abastecer o crime organizado dos grandes centros urbanos. Os militares classificam a ação dos agentes federais como uma revanche contra a Operação Rio, em que o Exército desbancou o comando da PF no comando.
O chefe do Estado-Maior defendeu a política imposta por Zenildo ao Exército, de investir na área social. Délio Monteiro disse que essa é a política adequada a uma "época de recursos escassos". Para compensar os baixos salários, que provocam insatisfação generalizada na tropa, o Exército tem investido no assistencialismo aos familiares dos militares.

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