São Paulo, quinta-feira, 21 de dezembro de 1995
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Garoto de futuro

CARLOS SARLI

Quem ainda tinha alguma dúvida de que Kelly Slater é o melhor surfista do mundo, ou achava que o líder Sunny Garcia seria imbatível em casa, e até quem não acreditava nas chances de Rob Machado nas ondas de Pipeline, quebrou a cara.
A etapa final do Tour, que este ano voltou a ser no Havaí, depois de um ano errante decidido na Austrália, teve todos os elementos para uma grande decisão: boas ondas, disputas acirradas e surpresas.
Apesar das diferenças entre os três norte-americanos que brigavam pelo título, um da costa leste, um da oeste e outro nativo do Pacífico, em comum eles têm o surfe afiado que fez com que se alternassem na liderança no ano.
O clima no Havaí contribui. A pressão está no ar. A expectativa da entrada de um swell gigante e o localismo ostensivo aumentam a calibragem. Não é lenda que, há alguns anos, cinco black trunks, os temidos locais, se postaram na praia à frente dos juízes e, a cada onda surfada por um havaiano, viravam tabuletas com notas 10. Também são famosos os casos de profissionais que em uma bateria em Pipeline Banzai não conseguem fazer nem uma onda sequer.
Sunny estava com a faca, o queijo e a goiabada na mão. Líder, em casa, bailou no segundo round para Mark Occhilupo, 29, a surpresa do campeonato. Fora do Tour há anos, Occy veio das triagens para chegar até a final do evento principal.
O havaiano fora, a briga ficou entre os colegas de banda do continente, que se encontraram na semifinal. Com ondas tubulares de 3 metros, o goofy footer Machado levava vantagem surfando de frente para os caroços. Mas Slater já havia provado sua eficiência de back side em G-Land, ao vencer a primeira edição do evento. A bateria foi pau a pau e Slater levou a melhor.
Apesar de ter vencido seu oponente direto, o título do Circuito não estava assegurado. Caso Occy vencesse o Chiemsee Pipe Master, o campeão seria Machado.
Há dois meses, quando esteve no Rio, tive a oportunidade de entrevistar Slater. Perguntei sobre a tal bateria final de G-Land em que ele precisava de um 10 e tirou, segundo a versão divulgada.
Humildemente ele desmentiu dizendo que o 10 foi logo na primeira onda e não buscando o resultado.
Atrás ou não do resultado, tirar um 10 numa bateria final é sinal de competência. Disputando a final com um Occhilupo embalado desde as triagens, Slater somou a maior pontuação de todo campeonato. Das quatro notas consideradas, duas foram 10. Resultado: tricampeão mundial.

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