São Paulo, quinta-feira, 21 de dezembro de 1995
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Viagem se inicia com camas sujas e bom humor

DO 'TRAVEL/THE NEW YORK TIMES'

Nós mostramos à vendedora um bilhete que o pessoal do hotel havia escrito em vietnamita. O bilhete explicava que queríamos três cabines de primeira classe.
A vendedora escreveu o preço no verso. Eram centenas de milhares de dongs, a moeda vietnamita, mas cerca de US$ 20 por pessoa, só a ida (eles não vendem bilhetes de ida e volta por alguma razão não explicada).
Quando nós começamos a sacar dólares de nossas carteiras, a vendedora começou a menear a cabeça e disse que a ferrovia só poderia aceitar como moeda o dong.
Uma visita ao banco foi necessária. Nós trocamos nossos dólares por diversas notas gigantes. A condição delas me fizeram lembrar de uma observação do escritor inglês Norman Lewis em um maravilhoso livro de viagem pela Indochina.
Ele especulava que os garçons devolviam as notas mais sujas como troco na esperança de que o cliente preferissem deixá-las como gorjeta em vez de tocá-las.
Outra corrida até a estação, antes que as cabines estivessem completamente vendidas.
Nosso compartimento de dormir de "primeira classe" tinha seis camas estreitas de parede, três de cada lado, duras e sem lençóis.
Alguém havia passado distribuindo cobertores, mas nós chegamos tarde demais e acabamos ficando sem eles.
As outras camas no nosso compartimento já estavam ocupadas por três vietnamitas e, quando eu vi esses homens e as camas nas quais iria ficar por 12 horas, comecei a tremer.
"Eu acho que não suportarei isso", pensei. Um amigo que estava comigo, cuja idéia de uma boa viagem é uma semana em St. Moritz, arregalou os olhos.
Meu marido achou divertido. Passei a pensar como ele. Logo após a partida fizemos um piquenique com presunto, queijo, pão e vinho que havíamos comprado em Hanói. Depois, passamos a enfrentar a insônia decorrente do barulho ritmado do velho trem.

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