São Paulo, sexta-feira, 22 de dezembro de 1995
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Tyson e os 'amigos'

WILSON BALDINI JR.

A aura está abalada. Nada é como antes. A sinistra e antiga entrada no ringue, quando apenas se notava o braço erguido do ex-técnico Kevin Rooney, é marcada por performances ridículas.
A Branca de Neve (Don King) lidera os sete anões, que não param de gritar e fazer gestos prepotentes. Sua chegada parece mais clip de Michael Jackson. Seu grau de intimidação perde facilmente para os "Cavaleiros do Zodíaco".
Nem o olhar sério e compenetrado lembra o "esmagador de ossos" de antigamente.
E dentro do ringue? A situação é ainda pior. O ex-campeão está preparado para ganhar um torneio de cultura física, mas não para ser o maior peso-pesado da história. A fera de 88 não voltará certamente.
Sobram músculos, mas faltam agilidade e técnica. E, pelo amor de Deus, não vamos discutir a sua indiscutível técnica.
O pior foi aguentar, depois da luta com Buster Mathis Jr., o "técnico" Jay Bright -completo ignorante em boxe- dizer que "Tyson está lutando conforme o adversário". São palavras do passado repetidas sem nenhum conteúdo por uma pessoa que não serve nem "para lavar a escarradeira" de qualquer boxeador. Ele faz parte do bando de curiosos que rondam o maior esportista deste final de século.
Tyson esteve perdido no ringue, cansando de errar ganchos e cruzados. Inseguro, sem saber que atitude tomar diante da luta corpo a corpo. Parecia iniciante. Nunca, em sua carreira, teve que olhar para corner para saber o que fazer.
Não lhe falta "tempo de ringue ou luta". É carência de verdadeiros treinadores. Como este espaço avisou antes de seu combate com Peter McNeeley, em agosto, Tyson está sozinho.
O clima de "família" que ele tinha com Jim Jacobs, Cus D'Amato e Kevin Rooney foi substituído pelo "ambiente explorador" de Don King e seus comparsas. A pergunta não é "qual é o adversário?". Mas "qual é a bolsa?".
Agora, Tyson tem menos de três meses para pegar Frank Bruno. O campeão do Conselho Mundial não é nenhum fenômeno. Seu "queixo de vidro" é um aliado do adversário. Mas, com certeza, sua forma física será invejável. Assim como esteve em 89. E se Tyson voltar a se mostrar sem preparo pode encontrar pela frente mais um "James Buster Douglas".
Há tempo, Tyson. Volte às origens e não se deixe influenciar pelos "amigos". Volte a ser lutador, não "caçador de dólares".

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