São Paulo, sexta-feira, 22 de dezembro de 1995
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Religião e fé são abordagens recorrentes

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Religião e fé têm sido temas recorrentes da nova dramaturgia, começando por "Tutankaton", passando por "Auto da Paixão" e "Duvidae".
Mas foi Luís Alberto de Abreu, um autor de sucesso na década passada com "Bella Ciao" (82) e outras peças populares, quem mais se dedicou ao tema, com textos como "Guerra Santa" (93), "O Livro de Jó" (95) e "A Grande Viagem de Merlin" (95).
(NS)

Folha - "Guerra Santa", "Jó" e "Merlin" são peças que lidam com a questão religiosa no fim do milênio. O que levou você a se interessar pelo assunto?
Luís Alberto de Abreu - Na "Guerra Santa", me preocupou muito o fundamentalismo religioso, da irracionalidade moderna. O "Jó" é um livro religioso, mas a minha abordagem foi mais no aspecto mítico, do Criador e da criatura. Obviamente, o mítico permeia a religião, e o livro é da religião judaico-cristã. Mas eu tentei abstrair um pouco o princípio religioso. Com o "Merlin" foi a mesma coisa. Entra o inferno, mas não o inferno religioso e sim o inferno mítico, mais de sombra, de deuses agrários.
Folha - Tanto "Jó" quanto "Merlin" são peças de certo envolvimento místico. Isso não espelha também a exaustão do espírito iluminista, com uma propensão maior para a fé?
Abreu - Eu não sei. Eu acredito que não. É tentar fazer do teatro, não só o espelho da nossa época, mas dar uma abordagem teatral aos elementos religiosos que estão presentes na nossa época. Seria, não reforçar esse tipo de coisa, mas propiciar nova abordagem. As forças irracionais estão presentes de maneira forte na nossa sociedade e cabe ao artista exteriorizar isso e erguer, inclusive, anteparos às forças obscurantistas.

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