São Paulo, segunda-feira, 25 de dezembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O monopólio de Papai Noel

CELSO LODUCCA

Parabéns! Você é um dos poucos que num feriadão pós-ressaca se dispôs a abrir o jornal no caderno de negócios e ainda ler uma coluna de comunicação. Talvez você já esteja jogado no sofá entre o corre-corre sempre acompanhado de gritos dos sobrinhos da sua mulher, da conversa banal daquele casal chato que ninguém conhece mas deve ser amigo de alguém da família, do som alto da TV ligada mixado com alguma música do Mamonas Assassinas que o vizinho ouve como se fosse surdo.
Nesse ambiente feliz e familiar, propício à concentração e leitura, talvez você consiga se lembrar que hoje é Natal. Dia do Papai Noel. Aquele velhinho barbudo, gordo e que passa um calor dos diabos dentro daquela roupa vermelha cheia de pêlos. Faço questão de adiantar que adoro Papai Noel.
Mas uma coisa sempre me intrigou desde criança: por que ele é gordo? A minha versão infantil era de que como ele passava o ano inteiro só na preguiça, comendo, dormindo e, no máximo, lendo algumas cartinhas, ele acabava ficando meio enferrujado, gordo mesmo. Física e mentalmente.
Pensando bem, é um pouco verdade. Não tem desafios à maior parte do tempo. Ele detém o monopólio da distribuição de presentes no final do ano, nenhuma concorrência, nenhum estímulo para melhorar seus serviços. Imagine se o coelho da Páscoa resolve ampliar seu mercado e passar a ser coelho de Natal. Em vez de cartinhas, ele passa a receber os pedidos via Internet e cada criança teria direito a dois presentes que chegaram com uma semana de antecedência. Caso Papai Noel não reagisse a tempo e passasse a criar estratégias mais eficientes e atraentes, ele seria, em breve, só uma lenda que existiu no passado. E todas as crianças passariam a esperar coelhos nas chaminés, cenouras penduradas nas modernas hortas de Natal e enormes dentões como brinde das lojas de departamento.
Em nome de todas as ex-crianças que cresceram com a fantasia do bom velhinho eu imploro: acorda Papai Noel! Perceba que o mundo mudou e que ficar deitado nos louros do passado não vale mais nada. Tire as barbas de molho.

Texto Anterior: Real faz despencar margens das empresas
Próximo Texto: Um mercado pouco comum
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.