São Paulo, terça-feira, 26 de dezembro de 1995
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Demônio é responsabilizado pelo passado

DO ENVIADO ESPECIAL AO RIO

A "endemonização" do mal e a alusão frequente ao diabo, centrais nos cultos da Igreja Universal, fazem com que seus fiéis protagonizem os casos mais espetaculares de mudança em suas vidas no momento em que aderem àquela religião.
A menção ao diabo permite com que o fiel opere uma espécie de "partição meio esquizofrênica em sua vida", nas palavras da socióloga Maria das Dores Campos Machado. "A pessoa pode assumir que fez vários abortos, que era drogada, que roubava, porque tudo isso passa a ser atribuído ao demônio, a culpa é dele, não de quem se dizia possuído."
Esse mecanismo de "desculpabilização" foi percebido pela socióloga na vida familiar dos fiéis. Segundo ela, as mudanças mais radicais ocorrem quando o homem acompanha a mulher e também se converte. "Se o homem bebe, espanca a mulher, trai, quando se converte deixa de beber, de ser violento, de gastar dinheiro fora de casa. Não há como falar que a vida dessa família não melhorou. É uma revolução."
Ela afirma que cerca de 70% dos fiéis da Universal são mulheres. O papel decisivo da mulher nessa religião pode ser exemplificado, segundo ela, pelo caso da mulher do bispo Von Helder, que agrediu a imagem de Nossa Senhora no dia 12 de outubro.
"A mulher de Von Helder, formada em química, foi quem o levou para a Universal. Ele dizia estar no banditismo e se torna pastor em pouco tempo. A mulher, que o tirou da marginalidade, aparece para nós como mulher do pastor, do orientador espiritual. Quem fez a inversão nos valores da família foi a mulher, mas ela aparece como apêndice dele", diz Maria das Dores.

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