São Paulo, terça-feira, 26 de dezembro de 1995
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Três gerações assistem à decadência militar

DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

O tenente-coronel José Teófilo Gaspar de Oliveira Neto, 43, define com uma frase sua relação com a carreira de 25 anos no Exército: "A gente ganha pouco, mas tem uma vida cheia de aventuras".
Filho do general Manoel Teófilo Gaspar de Oliveira Neto, sobrinho de quatro oficiais graduados das Forças Armadas e irmão de cinco oficiais do Exército, todos fazendo carreira na artilharia, José Neto diz que a "vocação militar" foi o que determinou sua opção profissional.
"Nossa família sempre teve um grande ardor cívico. Estamos na carreira porque gostamos. Afinal de contas, com os salários atuais, só permanece nas Forças Armadas quem tem vocação", declara.
Ganhando um salário de cerca de R$ 2.400,00, obtido com a incorporação das gratificações adquiridas por ter feito todos os cursos de especialização disponíveis em sua carreira, José Neto acredita que a queda no padrão de vida atinge não só os militares, mas a sociedade.
"A piora no padrão de vida dos militares acompanhou a queda que houve na renda dos assalariados de classe média, nos últimos anos, no Brasil. Tem muito médico que ganha menos do que um motorista de ônibus", afirma.
José Neto diz que não consegue oferecer aos filhos o mesmo padrão de vida que teve quando dependia do pai. "Com meu pai, tive uma vida de classe média alta. Os meus filhos têm uma vida de classe média baixa", declara.
Falta de prestígio
Acostumado a se vestir bem e a frequentar os lugares mais requintados de Fortaleza (CE) nos tempos de solteiro, José Neto diz que seu salário atual só dá para pagar as despesas essenciais da família.
"Dificilmente disponho de dinheiro para lazer. Comer fora, só em eventos especiais. Tem final de mês que não dá nem para tomar um chopinho com os amigos", afirma o militar.
José Neto diz que o fato de morar em uma casa do Exército e de os filhos estudarem no Colégio Militar é o que garante uma "folguinha" no orçamento. "Se dependesse só do salário, eu moraria na periferia, e os filhos estudariam em escola pública."
Para seu pai, o general Oliveira Neto, pior do que a crise financeira é a decadência no prestígio do militar: "Antigamente, a palavra de um militar tinha o valor de uma profissão de fé, todos acreditavam. Se chegássemos numa farmácia, por exemplo, e nos identificássemos como militar, teríamos crédito imediato", diz o general.
Militante do grupo Guararapes -agrupamento conservador de oficiais da reserva-, o general Oliveira Neto diz que a questão salarial não "é o elemento central" na vida militar.
"Eu repito sempre para o meu neto, que está entrando na carreira militar, um ensinamento que vem da minha família: só devem permanecer na vida militar aqueles que têm vocação para ela."

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