São Paulo, terça-feira, 26 de dezembro de 1995
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Oficiais vão para a periferia e deixam clube

FRANCISCO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

O empobrecimento da elite das Forças Armadas está transformando o Clube Militar em uma agremiação de aposentados. Segundo seu presidente, general da reserva João Cosenza, 65% dos 25 mil sócios do clube têm mais de 60 anos.
Com sua sede social no elegante bairro da Lagoa (zona sul do Rio), o clube é vítima direta da perda de atratividade da carreira militar entre as classes mais abastadas.
Morando em subúrbios cada vez mais distantes ou na Baixada Fluminense e ganhando pouco, os novos oficiais buscam cada vez mais recreação perto de suas casas ou nos Círculos Militares, localizados nas próprias guarnições e, segundo Cosenza, bancados pelas instituições.
"Antigamente, a maioria dos oficiais morava da Tijuca (bairro mais rico da zona norte do Rio) para baixo. Agora é da Tijuca para cima", afirmou o general, referindo-se à tendência atual de instalação dos militares em bairros periféricos.
Única entidade militar do país que abriga membros das três Forças Armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica), o Clube Militar, fundado no Rio de Janeiro em 1887, teve participação ativa em todos os momentos políticos importantes do Brasil a partir daquele ano. Seus sócios são oficiais da ativa e da reserva.
Para enfrentar o progressivo afastamento desses novos oficiais, a direção do Clube Militar está montando um vídeo que apela para a importância da entidade na "defesa da família militar" como tentativa de atrair novos sócios.
Para o general, o afastamento dos jovens dos bairros mais ricos é consequência da perda de status da carreira gerada, entre outros fatores, pelos baixos salários.
O general avalia que os jovens oficiais de hoje são, em grande parte, oriundos de famílias de sargentos, cabos e até soldados, que seguem o exemplo dos pais, mas buscam ir além.
Esses jovens oficiais estariam mais interessados em alcançar bens materiais, como compra de um carro ou da casa própria, que em participar do Clube Militar.
Apesar de não ser cara, a mensalidade do Clube Militar, na avaliação do general Cosenza, contribui para afastar os jovens oficiais mal-remunerados. Ela custa apenas R$ 26,21 para o sócio que mora no Rio e R$ 13,00 para o sócio de outros Estados. O preço máximo corresponde a 9% do soldo básico de um segundo-tenente.
O clube constatou o peso da mensalidade na sua crescente falta de novos sócios ao fazer uma campanha associativa na qual dispensava o pagamento da jóia (parcela de ingresso), que é de apenas duas vezes R$ 26,21 para o sócio efetivo (oficial militar) e quatro vezes para o vinculado (familiar do oficial). Segundo o general, foram conseguidos 500 novos sócios.

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