São Paulo, terça-feira, 26 de dezembro de 1995
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Salários sempre foram baixos, diz reservista

FERNANDO MOLICA
DA SUCURSAL DO RIO

Oficial da reserva da Marinha, o capitão-de-mar-e-guerra (cargo equivalente ao de coronel do Exército) Fernando Antonio Cozzolino, 57, transformou-se em um especialista nos problemas salariais dos militares.
Em sua casa, em Vila Isabel (zona norte do Rio), Cozzolino coleciona cópias de leis e decretos que, segundo ele, comprovam as derrotas impostas nos últimos anos aos salários dos militares.
Na sua avaliação, as perdas dos militares nem sempre são acompanhadas por prejuízos idênticos em outros setores do funcionalismo público brasileiro. Ele vê vantagens concedidas a outros segmentos.
Punição
Autor de artigos que abordam a degradação da vida dos militares em razão dos baixos salários, Cozzolino, em 1991, chegou a ser punido por suas críticas.
A punição acabou revista, uma vez que lei anterior assegurava o direito de expressão a militares da reserva.
Segundo ele, os militares sempre ganharam mal, o problema é que, até a edição da tal lei que garantiu a liberdade de expressão, mesmo os integrantes da reserva não podiam fazer críticas aos seus superiores.
Exemplo
Ele cita seu próprio caso como exemplo das dificuldades por que sempre passou a categoria.
Afirma que só conseguiu comprar os imóveis em Vila Isabel (duas casas de vila transformadas em uma) graças a um financiamento e ao período em que trabalhou no Rio Grande do Sul.
Quando estava lotado na Capitania dos Portos, morava de graça em um imóvel da Marinha e ainda conseguia alguns ganhos extras fazendo perícia em navios. Seus filhos estudavam em escolas públicas, o que lhe permitiu juntar algum dinheiro.
Cozzolino foi para a reserva em 1989, quando tinha 51 anos de idade, 30 anos de serviço efetivo e mais três anos e seis meses relativos a vantagens acumuladas.
Hoje, ele recebe mensalmente cerca de R$ 3.600 brutos por mês, quantia que admite ser razoável diante da situação do país.
Essa constatação não o impede, porém, de reclamar dos vencimentos dos militares.
O dinheiro, afirma Cozzolino, só é suficiente porque seu filho é solteiro e mora com ele.
Sem benefícios
O militar reclama também de benefícios dados aos trabalhadores da iniciativa privada, aos quais os militares não têm direito.
"Ele (o filho) já completou 750 dias passados no mar. Isso sem direito a hora-extra ou adicional noturno. Além disso, o militar não pode fazer greve nem pertencer a um sindicato", declara.
Diferentemente de muitos militares que afirmam que voltariam a escolher a carreira, apesar de todas as dificuldades, Cozzolino tem uma perspectiva mais amarga de sua escolha e chega mesmo a enxergar um certo preconceito social conta a carreira.
O oficial afirma que não voltaria a optar pela vida militar. O motivo, porém, não está relacionado a salários.
"O problema é que existe uma rejeição muito grande ao militar. A imprensa, inclusive, ajudou a criar este clima hostil, os militares são apresentados como grandes privilegiados", reclama.

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