São Paulo, terça-feira, 26 de dezembro de 1995
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Maior viagem de ônibus vai ao Chile

BETINA BERNARDES
ENVIADA ESPECIAL AO CHILE

A mais longa viagem que parte do Terminal Rodoviário do Tietê atravessa solo brasileiro e argentino para chegar a seu destino, a cidade de Santiago, no Chile, 3.659 quilômetros depois.
Oficialmente, são 58 horas de viagem, que chegam a 64 mesmo sem chuvas ou tempestades de neve nas cordilheiras dos Andes.
Sim, o ônibus passa pelas cordilheiras que, mesmo no verão, ostentam neve no cume das montanhas. Afinal, lá está o Aconcágua, o pico mais alto da América do Sul, com 6.959 metros de altura.
Antes, atravessa por 22 horas território argentino. A impressão é a de estar no meio de um "deserto verde": o gado pastando pelos pampas domina a paisagem.
"A viagem é cansativa, mas o visual compensa", diz o consultor de empresas Genesis Lima, 38, que resolveu fazer o trajeto por terra para conhecer a estrada. "Pretendo vir de carro no início do ano que vem e queria ver as condições das rodovias."
Para quem se dispõe a ficar quase três dias no ônibus, não é apenas o estado das estradas que importa: as paradas, onde são feitas as refeições e se toma banho, são fundamentais.
O ônibus, embora seja convencional (os bancos não reclinam como os leitos), é equipado com ar-condicionado, banheiro, televisão, refrigerantes, água e café servidos por um comissário de bordo.
Até chegar a Argentina, é possível encontrar nas paragens telefones, banheiros com água quente e fria e restaurantes com várias opções para lanches.
Mas em lugares como Pouso de Molle, na zona rural da província de Córdoba, não há telefones. A comunicação se dá por meio de radiotransmissores.
O banheiro não tem vaso sanitário. Ao abrir a porta, o usuário se depara com um buraco no chão e uma marcação mostrando onde devem ficar os pés. Ao estilo indígena, é preciso ficar de cócoras para fazer as necessidades fisiológicas.
Para os aventureiros, sonhadores, comerciantes e caminhoneiros que costumam enfrentar a estrada, "detalhes" como esse podem incomodar. Mas para quem faz o percurso duas vezes por semana conduzindo os passageiros, banheiros sem vasos não importam.
"O que marca são os acidentes com que a gente se depara nas estradas", diz o gaúcho Luis Carlos Borba, 41, motorista do trajeto Uruguaiana-Santiago há três anos.
Borba reveza o volante com um colega. Enquanto um dorme, o outro pega a estrada.
"A viagem é consativa. No verão é tão quente que o ar-condicionado não dá vazão. No inverno é tão frio que a gente chega a congelar", diz. "Quando há algum problema todos tentam ajudar. É um exercício de solidariedade."

As empresas que fazem a linha SP-Santiago são Pluma (011 290-2900) e Chilebus (011 267-6239)

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