São Paulo, terça-feira, 26 de dezembro de 1995
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Estudante viaja em busca do 'eu espiritual'

BETINA BERNARDES
DA ENVIADA ESPECIAL AO CHILE

Ao deixar a cidade de Itu (92 km a noroeste de São Paulo), a estudante Lucimara Gonçalves, 19, tinha um pensamento fixo: encontrar o seu "eu espiritual".
Achou que objetivo tão elevado merecia uma viagem à altura e embarcou num ônibus para enfrentar os 3.659 quilômetros que separam São Paulo de Santiago.
Na mochila, uma muda de roupas, US$ 500 e o livro "O Diário de Um Mago". "O Paulo Coelho foi para Santiago se autoconhecer e ganhar a espada", diz. Não importa que a Santiago de Coelho tenha sido a de Compostela, na Espanha, e a dela fica no Chile.
"O universo conspira para que eu vá ao Chile. Quero conversar com Deus. Peço respostas através de outras pessoas, como canais."
Lucimara trabalhava no telemarketing de uma multinacional em Itu. Encontrou um amigo que partiria para o Egito. "Ele sugeriu que eu fosse para Santiago. Pensei: ele é um canal." Mais tarde, um técnico chileno começou a trabalhar na mesma empresa.
Sete meses depois, ela foi demitida. "Descobri que aquela primeira mensagem do meu amigo começava a fazer sentido. Resolvi então que tinha de ir para o Chile."
Na viagem de quase três dias no ônibus, Lucimara ouvia em seu walkman Led Zeppelin, Ramones, Secos e Molhados, Rita Lee, Caetano. "Dependendo da situação que esbarro, troco de fita."
E com o que ela espera esbarrar no Chile? "Não sei. Às vezes a gente se perde muito para se encontrar no lugar que a gente estava. Quando a gente se perde, vê seus maiores medos", filosofa.
Na rodoviária chilena, Lucimara se deparou em primeiro lugar com o medo. Sem conhecer ninguém, entrou em uma igreja e começou a rezar. Depois, pediu a três rapazes que tomassem conta de sua mochila, enquanto ia ao banheiro.
"Quando voltei, eles estavam folheando 'O Diário de um Mago' e um deles, o Diego, me perguntou onde eu ia ficar. Respondi que não sabia e ele me convidou para ficar com a família dele."
Três dias após a chegada, Lucimara resolveu voltar. "Já encontrei todas as respostas, não preciso mais viajar. Vou voltar para subir num palco de teatro em São Paulo. Quero ser atriz, lutar pela nossa cultura. Nasci para cortar o sistema e sempre haverá pessoas como eu, para cortar o sistema."
(BB)

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