São Paulo, terça-feira, 26 de dezembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Campeão de judô 'briga' para chegar à Olimpíada

MARCELO DIEGO
DA REPORTAGEM LOCAL

O judoca Rogério Sampaio, 28, campeão olímpico em 1992, busca junto à CBJ (Confederação Brasileira de Judô) uma chance para integrar a equipe que disputará os Jogos de Atlanta no próximo ano.
"Acho que mereço isso, pelo meu passado", disse.
Sampaio foi eliminado nas seletivas olímpicas que aconteceram no Rio de Janeiro, entre 14 e 16 de dezembro. Ele foi obrigado a lutar com um estiramento na coxa esquerda.
*
Folha - Você ainda espera integrar a equipe olímpica em 96?
Rogério Sampaio Cardoso - Espero. Eu lutei contundido e espero que a CBJ leve isto em conta e me convoque para disputar a seletiva final.
Eu não quero justificar a minha derrota, acho que meus adversários me venceram com méritos. Mas acho que mereço uma nova chance, pelo meu passado.
Folha - Se não houver esta convocação, você vai entrar com um recurso?
Rogério Sampaio - Não quero entrar nessa parte política. Nem causar problemas. Mas todos sabemos que existe muita coisa que não foi feita de maneira correta.
Folha - As seletivas, por exemplo?
Rogério Sampaio - A CBJ colocou as seletivas terminando no sábado e o Campeonato Brasileiro sendo disputado no domingo. Isso não pode, são as duas competições mais importantes do ano. Como podem ser seguidas? Deveria ter uma no primeiro semestre e outra no segundo.
Folha - Você confia que possa conquistar uma nova medalha olímpica?
Rogério Sampaio - O atleta tem que confiar incessantemente naquilo que faz. Eu luto para ficar satisfeito comigo mesmo, para chegar ao meu limite. Acho que qualquer vitória é consequência desse esforço.
Folha - Mas depois de ganhar em uma Olimpíada não aumentaram as cobranças?
Rogério Sampaio - Lógico. Você sofre uma pressão muito grande, de torcedores e patrocinadores. Mas já aprendi a lidar com isso.
Folha - Sem sua participação, você acha que o Brasil tem chances de ganhar ouro em Atlanta?
Rogério Sampaio - Aurélio Miguel (campeão olímpico em 88) e eu fazemos parte de uma geração diferente do judô. Nós nos movimentamos mais, não ficamos parados. Aprendemos a lutar com os orientais.
Os judocas brasileiros estão muito acostumados com o estilo europeu, mais forte fisicamente. Isso nivela o judô e torna mais difícil conquistar uma Olimpíada.
Folha - Então você e o Aurélio são os que mais têm chances de sucesso?
Rogério Sampaio - Como eu disse, a vitória é consequência do treino. E nosso treinamento sempre privilegiou o intercâmbio com japoneses, que têm muito a nos ensinar.
Folha - Quais outros erros você aponta no judô brasileiro?
Rogério Sampaio - O judô tem pouca memória e poucos heróis. Tudo por causa da desorganização e da falta de incentivo.
Além disso, há uma total bagunça, principalmente nas categorias de base. As crianças lutam cada uma com uma faixa. Não pode.

Texto Anterior: Juiz no Japão já compreende insulto latino
Próximo Texto: Para entidade, judoca está fora
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.