São Paulo, terça-feira, 26 de dezembro de 1995
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Regular ou educar?

Território sagrado da livre concorrência, os Estados Unidos contraditoriamente produziram nesta década uma nova moralidade que regulamenta até mesmo a atividade espiritual do homem. Trata-se do caldo de cultura que estimula o comportamento considerado "politicamente correto", isto é, aquele que procura evitar qualquer tipo de discriminação social das minorias raciais e sexuais.
Em geral afeitos a modismos que muitas vezes beiram a excentricidade, os norte-americanos acabaram por fazer da defesa do "politicamente correto" uma espécie de reedição bem-intencionada do espírito macartista nas relações sociais. Por isso, os exageros em torno dessa voga acabam sendo, inevitavelmente, objeto de zombaria.
Na época das compras de Natal, por exemplo, questiona-se, agora também no Brasil, a pequena quantidade de bonecas negras à venda, tendo em vista denunciar a preconcebida associação entre beleza e os padrões estéticos da etnia branca.
Nos EUA, onde existem Barbies brancas e negras, as negras encalharam nas prateleiras das lojas. Trata-se sem dúvida de mais um episódio anedótico.
De modo geral, não há por que se opor a iniciativas que procuram promover comportamentos considerados "politicamente corretos". Da reserva de 20% das candidaturas às Câmaras Municipais para as mulheres até a abolição dos "elevadores de serviço" que segregam as empregadas domésticas, passando pela prescrição de um vocabulário que não denuncie inclinações racistas, procura-se traduzir um anseio legítimo de ver extirpadas das relações humanas todos os vícios culturais que separam os homens e criam entre eles vínculos de hostilidade. O caso Barbie, porém, prova que apenas regulamentar pode ser inútil. É preciso, antes, educar.

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