São Paulo, terça-feira, 26 de dezembro de 1995
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Guerra nada santa

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - Não há a menor dúvida de que as cenas exibidas desde a semana passada pela Rede Globo a respeito dos bispos da Igreja Universal do Reino de Deus revelam um deboche chocante.
Mas, no domingo, o "Fantástico" insinuou, sem chegar a ser explícito, um passo adiante: a cassação da concessão da Rede Record à turma de Edir Macedo.
Muito bem. Se houve irregularidade na concessão, é normal que ela seja cassada. Mas dançar forró, passar a mão no peito de "bispo", ameaçar tirar as calças, contar dólares ou ensinar o pessoal a arrancar doações não caracterizam motivo algum para cassar a concessão.
Até porque, se o país fosse realmente sério e decidisse investigar a maneira pela qual Edir Macedo conseguiu a TV Record, teria que investigar também a gênese de todas as demais redes. Será que alguma delas sobreviveria incólume a um inquérito em profundidade?
Sob o ponto de vista político-institucional, aliás, é bom lembrar que todas as emissoras-mães das atuais redes são produto de concessões "criadas pela ditadura", para usar uma expressão do agrado do presidente Fernando Henrique Cardoso.
Como Edir Macedo, todos os proprietários dos principais canais têm outros negócios, além da comunicação (só não sei se os Saad, da Bandeirantes, também os têm, mas nos demais casos, é público e notório).
É lamentável, claro, o charlatanismo que o pessoal de Macedo pratica.
Mas não é, certamente, o primeiro caso descoberto no Brasil. O país cansou-se de escândalos, em especial nos últimos dez anos, em que a redemocratização permitiu, pelo menos, que eles ganhassem continuamente estado público.
Em nenhum dos escândalos anteriores, a Rede Globo fez estardalhaço sequer parecido com o que está adotando agora, no caso da Igreja Universal.
O que torna evidente que se trata, acima de tudo, de uma briga de potências econômicas, em que o objetivo é destruir o outro. Não é coisa do demo, como pretendem os amigos de Macedo. Mas santo nessa história, não há.

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