São Paulo, domingo, 31 de dezembro de 1995
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Privatização é lenta; inflação ainda assusta

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

Embora não tivessem status de reforma constitucional, as privatizações eram também prioridade para o governo FHC, que, ao assumir, imaginou vender 17 empresas estatais. Vendeu oito.
O ritmo das privatizações acabou se transformando em motivo de bate-boca entre os próprios governistas.
O PFL deu o primeiro disparo, acusando de excessiva lentidão o ministro José Serra, responsável mais direto pelas privatizações.
O troco coube ao próprio presidente da República, em duas diferentes ocasiões, primeiro na Bélgica, em setembro, e depois na China, em dezembro.
Em ambos os momentos, FHC fez questão de lembrar que era o PFL que comandava a pasta responsável pelo maior número de estatais, a de Minas e Energia, chefiada por Raimundo Brito, uma indicação do cardeal pefelista Antônio Carlos Magalhães.
A primeira cutucada foi recebida em silêncio pelo PFL, mas, na segunda, quando as relações entre o partido e o presidente estavam no auge da tensão, Luís Eduardo Magalhães resolveu rebater.
Disse que não havia "grupo do PFL" no governo e que a responsabilidade por todos os ministros era do presidente.
À margem da futrica política, o presidente e o ministro Serra têm dito, sempre, que não há lentidão nas privatizações, mas o ritmo adequado à complexidade das operações.
Entre a visão do governo e a dos pefelistas, o empresariado fica, nitidamente, com a segunda: 70,8% dos executivos e empresários das 100 maiores empresas brasileiras dizem que a privatização vem sendo tocada de maneira lenta e tímida, conforme pesquisa da revista "Exame", publicada dia 20.
Adiamento das reformas que o próprio governo considera indispensáveis, desconfiança empresarial quanto ao ritmo de privatizações e choques políticos de fim de ano -tudo isso somado parece refletir-se no humor da população.
Embora sólida maioria aplauda o Plano Real, o fantasma da inflação ainda está muito presente.
Pesquisa do Datafolha mostra que 41% temem que a inflação aumente nos próximos meses, uma porcentagem praticamente idêntica aos 42% que afirmam que fica como está. Os ultra-otimistas (os que acham que a inflação vai diminuir) são 11%.
Mas, de três meses para cá, diminuiu a porcentagem dos otimistas. Em setembro, somando-se os que esperavam a manutenção do patamar inflacionário e os que acreditavam na redução da inflação, dava 61%. Em dezembro, eram apenas 53%.

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