São Paulo, domingo, 31 de dezembro de 1995
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Desemprego e inflação baixa compõem o cenário de 96

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

A boa notícia para 1996 é que a inflação continuará caindo e a taxa de juros também. A má notícia é que a economia vai crescer muito lentamente, quase parando, especialmente no primeiro semestre. A pior notícia é que o desemprego vai aumentar e pode aumentar muito em alguns setores.
Esse é o cenário mais frequente nas projeções das empresas de consultoria ouvidas pela Folha.
O governo trabalha com um cenário cujas linhas gerais são as mesmas, mas com algumas variações para torná-lo mais róseo.
Para as consultorias, por exemplo, a produção econômica brasileira certamente crescerá menos de 4% em relação a 1995, podendo ficar nos 2%, um número muito baixo. O governo, que já estimou 5%, refere-se agora ao "nível de 4%", conforme o ministro da Fazenda, Pedro Malan.
A principal convergência está nas estimativas de inflação para todo o ano de 1996. O teto é de 16%, contra os 23% deste ano. Trata-se aqui dos índices de preço ao consumidor, sempre os mais altos porque incluem aluguéis e serviços, como o de médicos, encanadores, lavanderias etc.
Esses itens sobem mais porque não estão expostos à concorrência externa. Em compensação, os índices de preços industriais no atacado, que excluem serviços e incluem produtos que competem com importados, já ficaram abaixo dos 10% neste ano. E devem continuar assim em 1996.
A maior ameaça à inflação baixa, até três meses trás, estava nas estimativas para a próxima safra agrícola. Previsões de uma quebra muito grande indicavam que o preço da alimentação poderia impulsionar a inflação.
Seria o contrário do que ocorreu este ano, quando uma supersafra e mais uma grande produção de carnes baixaram os preços.
As últimas estimativas, entretanto, indicam uma redução de safra não superior a 10%, o que não é grave dada a elevada base de comparação. Sem contar que o governo dispõe de estoques para colocar no mercado se os preços subirem exageradamente.
A correção de algumas tarifas dos serviços públicos, energia e telefone, ainda causarão impacto na inflação de janeiro e fevereiro. E o problema morre aí. Mantida a política de abertura comercial, desaparece qualquer ameaça de alta da inflação.
Poderia sobrar uma, a indexação dos salários, isto é, a prática generalizada de reajustes com base em toda a inflação passada. Isso, no primeiro momento, não provocaria alta da inflação, mas impediria sua queda para um nível abaixo dos 20%. E o índice de 1995 se tornaria um piso intransponível.
Entretanto, como o crescimento econômico será pequeno, as empresas terão dificuldades em manter a regra de reposição plena da inflação passada. As vendas reduzidas no primeiro semestre farão com que as companhias evitem aumentos de custos, ou com redução do reajuste salarial ou com demissões, o que, na rodada seguinte, contribui para baixar os salários.
Em resumo, não deve haver ganho salarial neste ano, mas ainda haverá ganho de renda. Isso por causa da queda da inflação. Quanto menor a inflação, maior o poder de compra de um mesmo salário.
Por exemplo: quem tiver um reajuste salarial de 15% em janeiro de 1996, chegará ao fim do ano com um poder de compra rigorosamente igual ao do início do período, se a inflação ficar nos mesmos 15%.
Ao longo do ano, o salário teria um poder aquisitivo maior do que em 1995, pois a perda, em 96, seria gradual, na base de 1% ao mês.
Em resumo, não deverá ser por esse lado, o da inflação, que virão os problemas do presidente Fernando Henrique Cardoso. Ao contrário. Como tem ocorrido desde que FHC se tornou ministro da Fazenda, a inflação baixa e descendente será sua principal arma eleitoral.
Os problemas aparecerão nas questões não menos importantes do crescimento e do desemprego.

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