São Paulo, domingo, 31 de dezembro de 1995
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'Atropelado' por avião tem medo de voar

ANDRÉ LOZANO
DA REPORTAGEM LOCAL

O garoto Alexandre Amâncio da Silva, 15, que estava no táxi atingido pela explosão do avião que caiu em novembro último na avenida Santos Dumont, zona norte de São Paulo, disse que "nem que pagassem" ele viajaria de avião algum dia.
Alexandre, o motorista Salvador Oliveira Melo e outros dois homens que estavam em um Monza na frente do Gol do taxista, escaparam da morte porque conseguiram deixar os veículos em menos de cinco segundos -tempo que demorou para o avião explodir, após a queda.
No acidente morreram o piloto e cinco passageiros que iam para cidades do interior.
"Eu nasci de novo. Agora dou mais valor para a minha vida", disse Alexandre, que trabalha como ajudante em uma banca de jornais em Santana (zona norte).
O garoto diz que não consegue esquecer as imagens da tragédia. "Eu acabo sonhando sempre com aquela desgraça", contou Alexandre.
Apesar das lembranças indesejáveis, para Alexandre essa será a "melhor passagem de ano" de sua vida.
"Foi Deus que quis que eu sobrevivesse. As imagens do acidente não saem da minha cabeça. O que me deixou mais chocado foi ver os corpos queimados", afirmou o garoto.
Alexandre teve dificuldade em sair do carro porque ficou preso ao cinto de segurança, que não conseguia desatar. "Um segundo a mais e eu morreria", disse o garoto, que acabou conseguindo se livrar do cinto de segurança quando o carro começou a pegar fogo.
"Eu estava desesperado. Não conseguia soltar o cinto. Foi então que pensei em Deus para sobreviver", contou Alexandre.
Ele não costuma andar de táxi e, no dia do acidente, acabou saindo com o motorista Salvador, que trabalha em um ponto em frente à banca de jornais, porque precisava apanhar muitas revistas na editora Abril.
Alexandre mora com a mãe e sete irmãos no bairro do Itaim Paulista (zona leste).
O garoto espera um 96 "mais tranquilo" e conta o seu desejo para o novo ano: "ganhar uma mobilete".
O inquérito sobre as causas do acidente do avião ainda não foi concluído. Está aguardando laudo do Instituto de Criminalística, que deverá explicar os motivos da queda do monomotor.

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