São Paulo, domingo, 31 de dezembro de 1995
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Vítimas do Paraná se reúnem todo mês

MÔNICA SANTANNA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA

O procurador de Justiça Hélio Lewin tem motivos de sobra para comemorar 1995 e os próximos anos. Ele e sua família conseguiram sair a tempo do edifício Atlântico, que desmoronou em 28 de janeiro passado em Guaratuba, litoral do Paraná.
Lewin e as demais famílias que sobreviveram ao acidente reúnem-se uma vez por mês para uma confraternização e discussão sobre o ressarcimento dos prejuízos. "Nosso encontro é uma celebração à vida e também uma forma de nos mantermos unidos", disse.
No acidente, morreram 28 pessoas, entre elas todos os integrantes da família Sachetti e alguns da família Saliba Torres.
"Nós renascemos e fortalecemos ainda mais nossa família, porque passamos pela experiência de sofrer uma possível perda", afirmou emocionado Lewin, que tinha o apartamento 22.
Ele costuma repetir que sobreviveu junto com sua mulher Ana Maria e o filho Guilherme e uma sobrinha "por obra de Deus".
"Nós chegamos a Guaratuba por volta das 9h e a Ana subiu para descarregar as compras e acordar os meninos. Eu fiquei conversando com Ernani (Ernani Sachetti, que morreu com a mulher e duas filhas), que estava nervoso com a interrupção da obra de recuperação dos pilares", disse Lewin.
Segundo ele, Ernani, que era engenheiro, havia escutado os engenheiros avisarem a Ney Baptista Torres, construtor do prédio, que a obra não podia ser paralisada.
"Enquanto conversávamos, ouvimos um primeiro estrondo forte, suficiente para que todos gritassem para suas famílias saírem do prédio. O Ernani foi ao interfone porque sua mulher não apareceu. Depois, houve um segundo estrondo e só vi a poeira atrás de mim.'
Lewin viu Ana Maria na calçada, mas não sabia se o filho Guilherme, 18, havia saído a tempo. Só depois ele apareceu chamando pelos pais. "Foi um milagre".
Lewin continuou seu trabalho como procurador, mas a sensação de vazio o acompanhou durante o ano. "Relembrar incomoda e tem sempre alguém que interpela sobre o assunto; o vazio é porque todos formávamos uma grande família".

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