São Paulo, domingo, 31 de dezembro de 1995
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Rapaz que ficou 17 h em bueiro gostou de 95

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

O estudante e capoeirista Otacílio Pereira da Fonseca Júnior, o Juninho, 16, disse que 1995 foi um ano "muito bom" e que nem o acidente ocorrido com ele em outubro foi capaz de atrapalhar o ano.
"Apesar de ter acontecido aquilo, foi um ano muito bom, boas coisas aconteceram. Só de ter saído do acidente sem nenhuma lesão permanente já é um motivo para considerar 95 muito bom", disse.
Durante uma forte tempestade, na tarde de 8 de outubro, um domingo, Juninho caiu em um bueiro no bairro Sion, em Belo Horizonte, e foi tragado pela força das águas. Só na manhã de segunda-feira o estudante foi resgatado pelo Corpo de Bombeiros das galerias da rede pluvial (que escoa a água da chuva).
Ele ficou 17 horas dentro das galerias. Sofreu várias escoriações pelo corpo e foi encontrado a cerca de três quilômetros do local onde caiu.
Juninho disse que o acidente foi "uma lição de vida" e que, "de alguma forma, você passa a valorizar mais as coisas".
"Isso não vai nunca sair da minha mente, mas também não foi a maior tragédia", disse o otimista Juninho, que se prepara agora para retomar o ritmo normal de vida no ano que se inicia.
Ainda se recuperando do acidente, Juninho só pensa nas "coisas boas" que poderá voltar a fazer em 1996. "Em três meses, acho que já poderei voltar para a capoeira. Não aguento mais ficar parado", anima-se.
Ele retomará também o curso no Cefet (Centro Federal de Educação Tecnológica), onde cursa o segundo ano em eletrônica.
Antes, terá que se submeter à 13ª cirurgia desde que sofreu o acidente. Ele sofreu um corte profundo na perna e, durante os cerca de 40 dias que ficou internado no hospital, teve que fazer 12 raspagens cirúrgicas, sob anestesia geral, para desinfetar a ferida.
"Vou ter que fazer mais uma cirurgia na perna direita porque uma ferida não cicatrizou. Estou também fazendo fisioterapia e vou me recuperar bem no ano que vem", afirmou.
Volta das chuvas
As chuvas voltaram a atingir o Estado de Minas Gerias em dezembro, provocando, até a última sexta-feira, 30 mortes e deixando outras 38 pessoas feridas, segundo a Cedec (Coordenadoria Estadual de Defesa Civil). O órgão informou ainda que 507 pessoas tiveram as casas destruídas pelas enchentes e 3.042 tiveram de sair de casa, desde o início do mês.

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