São Paulo, domingo, 31 de dezembro de 1995
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Mitos econômicos foram abalados em 95

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

1995 prometia ser um ano de grandes lições. Da crise do México ao acordo entre israelenses e palestinos, passando pela irrefreável revolução da informação ou pela consolidação da União Européia, há uma lista longa de grandes mitos econômicos e geopolíticos que foram abalados nos últimos 12 meses.
A tese do "fim da História" saiu definitivamente de moda. A obsessão com a globalização e a competitividade também perderam charme. Seja por efeito de críticas conceituais bem armadas, como as que foram alinhavadas pelo economista Paul Krugman, seja porque em muitos países os limites da lógica global ficaram evidentes.
Krugman fez um alerta simples e importante: países não devem ser confundidos com empresas. Assim, o discurso da redução de custos, da disputa por mercados e da competitividade, que faz todo sentido para uma empresa, pode ser um enorme contra-senso se transplantado para o espaço internacional.
Quanto aos países onde os riscos da lógica global passaram a receber mais atenção, a lista inclui estrelas de todos os "mundos": da França ao México, passando pelo Brasil, pela Índia ou pela China, ficou evidente que na prática ninguém encontrou ainda a pedra filosofal do desenvolvimento harmônico e sustentado.
Outro grande mito que sucumbiu ao princípio de realidade é o da revolução das telecomunicações e, em especial, da Internet.
A Internet é fantástica, mas suas possibilidades ainda são pouco compreendidas. Economicamente, nem mesmo os princípios do marketing nesse espaço virtual estão claros. A segurança dos protocolos usados na rede foi quebrada várias vezes, jogando água fria na onda de compras em lojas virtuais.
Os jornais do Primeiro Mundo trazem agora cada vez mais reportagens sobre a distância entre o "hype", o entusiasmo da nova moda, e a realidade de um meio impregnado de incertezas e padrões concorrentes.
Na infra-estrutura de telecomunicações também há dilemas. Nos países asiáticos já se percebe com clareza uma resistência à abertura do setor. Nos EUA, depois de meses de discussão no Congresso, o mercado continuará restrito para os estrangeiros.
A conclusão é que a informatização continua, mas o seu sentido e alcance ainda não estão claros. Outro aspecto é o conflito entre o padrão PC e a expansão da cultura de redes.
Por essas razões, entre outras, as ações tecnológicas começaram a derrapar em Wall Street nas últimas semanas.
Além dos arranhões no ideal de um mundo globalizado e informatizado, 1995 reservou ainda algumas surpresas para todos os que acreditaram num outro mito deste fim de século: o da racionalidade financeira e do fim dos Estados Nacionais.
Os sistemas financeiros, tanto na engenharia das operações quanto no desenho institucional, vêm passando por turbulências e transformações provavelmente sem precedentes.
Quanto ao desenho institucional ou à estrutura dos mercados financeiros, as mudanças também são significativas e sem resultado completamente previsível. Nos EUA o processo de fusões e aquisições bancárias é apenas a ponta visível de uma onda impressionante de redefinição de correlação de forças não apenas entre bancos mas contrapondo seguradoras, fundos de pensão, bancos de investimento e corretoras, administradoras de cartões de crédito e outras instituições financeiras não-bancárias.
Ao menos em parte, as mudanças financeiras foram promovidas pela desregulamentação dos anos 80. As surpresas dos anos 90 mostram que talvez seja cedo para descartar funções de supervisão e regulamentação. Paradoxalmente, agora são os mercados financeiros que "ricocheteiam", exigindo uma nova reflexão sobre as funções dos Estados Nacionais.

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