São Paulo, domingo, 31 de dezembro de 1995
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Desastre é símbolo nacional

Relação entre tropas é tensa
Paz interessa a brasileiros

RICARDO BONALUME NETO
DO ENVIADO ESPECIAL

A paz em Angola foi facilitada pelo fim da Guerra Fria. A Rússia deixou de vender armas ao governo, e os EUA pararam de financiar a Unita. O presidente angolano, José Eduardo dos Santos, visitou os EUA em dezembro.
Mas o petróleo e os diamantes continuam dando recursos para as elites dirigentes dos dois lados continuarem a guerra, se quiserem.
Com isso, o país sofre o risco de viver um estado de meia-paz, meia-guerra, endêmico, adequando-se ao cotidiano da população do mesmo modo como a malária ou a corrupção (o suborno, no país, é conhecido como "gasosa", o mesmo nome dos refrigerantes).
Antes da independência, o país exportava produtos agrícolas, como o café. Hoje, a agricultura é basicamente de subsistência, e mesmo essa é difícil por causa dos milhões de minas enterradas.
O contraste entre a elite dirigente e a população tem um bom exemplo nos veículos. Não existem táxis em Luanda; os ônibus estão todos em péssimo estado; mas carros importados luxuosos são visíveis por toda a parte (e uma das primeiras coisas que desembarcaram junto com o líder da Unita, Jonas Savimbi, em Andulo, foi o seu Mercedes blindado).
Angola importou, antes mesmo do Brasil, o modelo mais recente do Audi. Apesar dessa atração angolana tem pelo volante, dirigir mal é tradição no país.
O próprio símbolo da independência é um desastre automobilístico. Na Praça 1º de Maio, em Luanda, há um monumento que consiste em dois blindados trombados. Os dois se chocaram ao fazer uma curva na batalha de Kifangondo, em 10 de novembro de 1975, véspera da independência.
Os interesse econômicos já criaram situações curiosas. No auge da Guerra Fria, os cubanos lutando pelo governo chegaram a defender instalações de empresas petrolíferas americanas contra guerrilheiros armados por americanos.
(RB)

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