São Paulo, domingo, 31 de dezembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Relação entre tropas é tensa

RICARDO BONALUME NETO
DO ENVIADO ESPECIAL

O relacionamento das tropas da ONU, incluindo as brasileiras, com a guerrilha da Unita tem sido tenso, embora em alguns pontos do país observadores isolados ou mesmo unidades maiores não tenham muitas reclamações sobre os partidários de Jonas Savimbi.
"Nós pisamos em ovos o tempo todo", disse um militar brasileiro. O contato com a população faz de cada soldado um diplomata.
Um policial militar brasileiro que viveu entre tropas da Unita elogiou sua disciplina, considerada por muitos como mais rigorosa que a das tropas do governo. A Unita é um partido armado fortemente centralizado.
Apesar disso, há variações importantes de comportamento por parte dos guerrilheiros. Parte disso se deve ao caráter de comandantes individuais da guerrilha.
Em Andulo, os guerrilheiros dificultaram a instalação de uma companhia (unidade com 119 homens) de brasileiros ao ceder a eles uma região de mato fechado para servir de base.
A instalação ficou ainda mais difícil porque os contêineres não puderam chegar até a companhia, pois os motoristas angolanos das carretas ficaram com medo de seguir para a região da guerrilha.
"Não quero voltar aqui para discutir mortos. Não quero trazer cadáveres", disse um oficial da guerrilha, major Jorge, ao capitão brasileiro Valdicler Almeida Pinto, responsável pela 1ª companhia.
Parte dela estava no porto de Lobito; havia 21 homens no mato onde se está construindo a base, incluindo quatro que faziam segurança da área de aquartelamento ao lado, junto com o canadense Roy Brunner; e outros 47 em uma missão religiosa abandonada a 22 km.
Ao tentar entrar em contato com o pelotão isolado na base, e com os observadores da força de paz em Andulo (um dos quais era brasileiro), o capitão chegou a ser ameaçado com fuzis.
Já os fuzileiros navais brasileiros, perto de Chitembo, tiveram um relacionamento bem mais tranquilo.
Mesmo durante o confinamento de parte da 1ª companhia em Andulo, os fuzileiros puderam trafegar sem problemas.
(RBN)

Texto Anterior: Desastre é símbolo nacional
Próximo Texto: Paz interessa a brasileiros
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.