São Paulo, quarta-feira, 1 de fevereiro de 1995
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'Novos-ricos' do Congresso planejam gastar com móveis e microondas

MARIO CESAR CARVALHO
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

Congresso também é progresso. A posse de senadores e deputados cria hoje uma nova categoria econômica em Brasília: a dos novos-ricos. São pessoas que, de um dia para o outro, viram seu ganhos se multiplicar por cinco, dez e até 20 vezes. Vão ganhar cerca de R$ 8 mil.
Ricardo Gomyde (PC do B-PR), 24, fez uma escalada digna de um "self-made man", não fosse ele de um partido que vê os Estados Unidos como sucursal do inferno.
Até semana passada, Gomyde vivia com os pais num apartamento em Curitiba. Era diretor da UNE (União Nacional dos Estudantes). Sobrevivia de mesada e das cervejas que eventualmente vendia numa barraquinha na praia de Caiobá (PR). Dava R$ 400 por mês.
Tem planos frugais para os R$ 16 mil que receberá neste mês (R$ 8 mil de salário mais R$ 8 mil de ajuda de custo), dos quais ficará com R$ 7 mil —o resto vai para o partido.
"Vou comprar computador e fax para o gabinete e uma TV, um aparelho de som, microondas e móveis", enumera.
O único luxo que ele se permitiu até agora foi comprar quatro ternos a cerca de R$ 400 cada. Se o dinheiro não cair na conta, ele diz que quebra.
"R$ 16 mil?", assusta-se o deputado Miguel Rossetto (PT-RS), 34, também em seu primeiro mandato. "Nunca vi tanto dinheiro assim na minha vida."
Rossetto, um técnico em mecânica que ganhava R$ 1,5 mil numa indústria petroquímica de Porto Alegre, diz que o novo salário não muda sua vida.
"Vou pagar R$ 16 mil de dívidas de campanha, mobiliar meu apartamento e o resto vou dar para movimentos populares", diz ele, que doa 30% do salário ao PT.
O mais jovem dos deputados que toma posse hoje, Wolney Queiroz (PDT-PE), 22, também tem planos franciscanos.
Quer montar escritórios políticos em Pernambuco, comprar TV, som e vídeo e alimentar sua caderneta de poupança. "Preciso pensar no futuro."
O luxo de Queiroz, segundo ele, são discos. "Compro de forró a Placido Domingo."
Como se vê, muito dinheiro parece incomodar deputados que foram subitamente guindados a um novo patamar econômico.
"Com salário de deputado não se fica rico. Se ficar é porque roubou", diz Chico Vigilante (PT-SDF), deputado em segundo mandato que ganhava cerca de R$ 600 trabalhando como vigia em duas empresas.
O máximo que ele diz ter feito foi comprar um Monza 88 e fazer uma casa de três quartos em Ceilândia, cidade-satélite de Brasília.

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