São Paulo, quarta-feira, 1 de fevereiro de 1995
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Com o pé direito

THALES DE MENEZES

Não dava para ser melhor. O ano tenístico começou dando pinta de que poderemos ter novamente o privilégio de acompanhar grandes duelos. As duas finais do Aberto da Austrália foram jogos para fã nenhum botar defeito.
Mary Pierce, a canadense filha de norte-americanos naturalizada francesa, teve o segundo melhor desempenho de sua carreira. Apenas na semifinal de Roland Garros do ano passado, quando arrasou Steffi Graf em dois rápidos sets, Pierce mostrou tamanha precisão em golpes tão fortes.
Arantxa Sanchez caiu também em dois sets, mas o placar de 6/3 e 6/2 não reflete o duríssimo combate. A espanhola fez tudo certo na quadra, mas não conseguiu acompanhar o ritmo de troca de bolas imposto por Pierce. A francesa soltou o braço em quase todos os pontos, mesmo nas situações em que a tática e o bom senso pediam golpes "colocados".
No masculino, Andre Agassi chegou bem perto da perfeição. Muita gente pode ponderar os problemas enfrentados pelo vice Pete Sampras fora das quadras. Ele chegou a chorar após o jogo, quando lembrou de seu técnico, vítima de dois derrames. Mas a verdade é que Sampras jogou bem.
Analisando os números da partida, é fácil atribuir a vitória de Agassi ao fraco aproveitamento de Sampras no saque. Ele acertou pouco mais de 50% em seu primeiro serviço, quando sua média habitual fica entre 75% e 80%. Mas é ingenuidade pensar que Sampras pura e simplesmente errou os saques porque estava num dia infeliz. Na verdade, do outro lado da quadra estava o jogador que tem a melhor devolução de saque do circuito. Para muita gente, Agassi é melhor nesse fundamento do que Jimmy Connors, o paradigma da devolução de saque.
Por isso, Sampras sabia que precisava forçar muito o serviço para não ser pressionado por Agassi. Sampras errou muito porque arriscou demais, independente da carga emocional que carregava. Além disso, teve o azar de enfrentar um Agassi particularmente feliz. Desde os tempos de Borg no seu reinado em Wimbledon ninguém via um tenista acertar tantas vezes as rebatidas paralelas, muito mais difíceis do que as bolas cruzadas porque passam pelo ponto mais alto da rede. Um show.
Com Agassi, Mary Pierce, Arantxa e Sampras jogando assim, só falta Steffi e Boris Becker voltarem a exibir seu talento para transformar 1995 numa festa do tênis. O começo foi muito bom.

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