São Paulo, quarta-feira, 1 de fevereiro de 1995 |
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Melodramas retratam fúria neonazista
JOSÉ GERALDO COUTO
Nos três continentes a história básica se repete: grupos de skinheads massacram minorias étnicas e sexuais, sob as vistas grossas da polícia e do poder político. Os três filmes misturam, em doses diferentes, ação, melodrama e política. No australiano, o melhor deles, predomina a ação. No italiano, o melodrama disputa terreno com a discussão política. No americano, o pior de todos, o melodrama manda sozinho, embora haja muita pancadaria. Em Melbourne, na Austrália, o principal alvo dos neonazistas parece ser a comunidade de imigrantes pobres vietnamitas. Gabe (Jacqueline MacKenzie), uma garota desajustada, que rompeu com o pai incestuoso e abandonou o namorado viciado, acaba se envolvendo com o líder dos skinheads locais (Russel Crowe, de "A Prova") e passa a viver com a gangue num galpão abandonado. No começo, tudo é só uma arruaça permanente, mas as ações do grupo se tornam cada vez mais violentas, os vietnamitas reagem, ocorrem mortes. Para piorar, a garota é epilética e tem seus ataques nos piores momentos. O namorado tende a abandoná-la, outro membro do grupo resolve protegê-la. Instala-se um tenso e instável triângulo. Confirmando a alta qualidade do cinema australiano de hoje, o filme equilibra competentemente um pouco de tudo: cenas muito bem decupadas de brigas de rua, drama moral consistente e uma descrição sensível dos ritos de passagem da juventude —uma fase da vida em que o sujeito pode virar um humanista ou uma besta. Mesmo sem exibir o esmero técnico e dramático de seu congênere australiano, o italiano "Skinheads" não passa vergonha. Acompanha a trajetória de um jovem romano desocupado que mora com a "mamma" e passa o dia fumando maconha, até que duas coisas mudam sua vida: começa a namorar uma garota negra e se aproxima de um grupo skinhead. Claro que os dois fatos são excludentes e contraditórios, e o drama do filme vem justamente do dilema do rapaz: será fiel a seu desejo pela garota ou leal aos princípios do grupo? Como os italianos gostam de política, um personagem serve como "luz da consciência": um comerciante judeu que tenta mostrar ao rapaz que o nazismo tem muito passado e nenhum futuro. Uma bomba absoluta é o americano "Skins", sobre um rapaz homossexual de Los Angeles espancado quase até a morte por carecas locais. A indignação contra os agressores reaproxima seus pais separados: uma cantora de botequim (Linda Blair) e um ex-policial alcoólatra (Cole Hauser). Festival de clichês melodramáticos, o filme tem ainda dois agravantes: glamouriza a idiotia nazista, estetizando-a (embora de modo kitsch), e sugere a solução mais perigosa e reacionária possível para o problema, a justiça com as próprias patas. Falta agora um longa-metragem sobre os nazis daqui. Vídeo: Skinheads - A Força Branca Produção: Austrália, 1992, 89 min. Direção: Geoffrey Wright Elenco: Russel Crowe, Daniel Pollock, Jacqueline MacKenzie Distribuição: Cannes (tel. 011/ 579-6522) Vídeo: Skinheads Produção: Itália, 1993, 90 min. Direção: Claudio Fragasso Distribuição: NCA (tel. 011/966-6135) Vídeo: Skins - Medo e Violência Produção: EUA, 1994, 91 min. Direção: Wings Hauser Elenco: Wings Hauser, Linda Blair, Cole Hauser Distribuição: PlayArte (tel. 011/ 575-6996) Texto Anterior: Comunidade Européia busca filmes perdidos no Brasil Próximo Texto: 'Ace Ventura' não requer efeitos especiais Índice |
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