São Paulo, quarta-feira, 1 de fevereiro de 1995
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A corrupção privada

CLÓVIS ROSSI

DAVOS (SUÍÇA) — Preocupado com a corrupção no serviço público? Não se incomode, você não está sozinho. Ao contrário, aumenta o número dos que descobrem que a coisa tomou proporções que inviabilizam os negócios, tanto os públicos como os privados.
Prova: há dois anos, o Fórum Econômico Mundial, a maior concentração de personalidades que o planeta produz a cada ano, discutiu a questão. O auditório estava semivazio. Ontem, voltou a fazê-lo: a sala estava tão cheia que muita gente teve que ficar de pé.
Fora o fato de que autoridades e empresários decidiram propor uma convenção internacional de combate à corrupção, como se lerá páginas adiante.
Aqui, importa ressaltar um lado da questão que é o fato de que não há corrupção no serviço público sem que participe alguém da iniciativa privada. É óbvio, eu sei, mas a maioria do público, especialmente o público empresarial, costuma passar batido nesse ponto.
À certa altura do debate, tomou a palavra Charles Goldman, vice-presidente da ITT, megaempresa de 98 mil funcionários. Para meu espanto, afirmou a seus colegas empresários: "A solução somos nós. Quantos de nossos executivos põem a integridade dos funcionários no topo de suas prioridades?"
Pois é. Na minha memória, a ITT é responsável pelo, talvez, mais grave crime de corrupção que se pode praticar: despejou dinheiro para desestabilizar um governo democraticamente eleito, o de Salvador Allende, no Chile.
Depois, foi a vez de Christopher Kirubi, empresário queniano. "Vocês abraçam os nossos líderes (políticos) que lhes dão contratos", apontou, referindo-se à disseminada corrupção de dirigentes dos países do Terceiro Mundo, exatamente os mais miseráveis.
A propósito, Jules Kroll, presidente de uma firma de investigações sobre negócios, lembrou a tremenda crueldade de o Haiti ser o país mais pobre das Américas e, não obstante, seu ex-ditador, o "Baby" Doc, ter partido para o exílio com uma conta bancária de US$ 300 milhões.
Alguém acha que essa dinherama saiu só dos cofres haitianos?

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