São Paulo, quarta-feira, 1 de fevereiro de 1995
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FHC diet

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA — É uma péssima notícia para o presidente Fernando Henrique Cardoso. O Datafolha divulga hoje: ele perdeu a confiança de cerca da metade dos brasileiros que, antes da posse, esperavam um governo "ótimo ou bom". A velocidade é devastadora: caiu de 70% para 36%.
E olhe que o Brasil oferece um punhado de boas notícias: o ministério é, na média, de bom nível, a economia cresce, a inflação cai. Não contiveram, porém, a acelerada decepção —o que se deve, em parte, à deficiência de comunicação do presidente.
A pesquisa dá pistas de motivos mais profundos para a queda de expectativa: 77% não querem o veto ao aumento do salário mínimo. Vou, infelizmente, irritar a maioria dos leitores desta coluna, mas, neste caso, a culpa não é do governo, mas da opinião pública.
Óbvio que o salário mínimo atual é ridículo. Óbvio que deve ser elevado. Será que o governo recusa o aumento por uma estranha vocação sádica? O fato: explodiriam as contas da Previdência Social, ajudando a inviabilizar o plano de estabilidade econômica.
A discussão agrava-se, porém, porque o presidente elevou seu salário junto com deputados e senadores, tipos considerados desprezíveis. E, ao mesmo tempo, ele anuncia que vai sancionar a anistia a Humberto Lucena.
Tudo isso acontece poucos meses depois do clima de campanha eleitoral, repleta de promessas e esperanças. O que, claro, acirrou as expectativas, estimulando a paixão pelo possível e o impossível. Na prática, ele respondeu a seus eleitores das camadas mais pobres como o veto ao mínimo. Ou seja, um tabefe. Compreensível que não consigam entender as implicações na estabilidade econômica.
Parte da responsabilidade é do próprio presidente. Ele prometeu prioridade aos pobres, mas só aparece cercado por ministros, políticos, empresários, intelectuais, protegido por palácios e coquetéis. Ou seja, a bajulação típica da corte. Ele apenas solidifica a impressão de que sua sensibilidade social é mais forte nos discursos do que nas ações.

PS— Melhor sinal da crise educacional do Brasil impossível: segundo a pesquisa, 78% não sabem o nome do vice-presidente e qual seu partido.

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