São Paulo, quinta-feira, 2 de fevereiro de 1995
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E agora?

CLÓVIS ROSSI

DAVOS (SUÍÇA) — Contida, por ora, a crise mexicana, com o novo pacote anunciado terça-feira pelo presidente Bill Clinton, pode-se fazer as primeiras contas sobre os efeitos para a América Latina.
Das inúmeras avaliações feitas durante o Fórum Econômico Mundial, a maior concentração de personalidades que o planeta produz anualmente, o resumo fica a cargo de David Hale, economista-chefe da Kemper Financial Corporation:
"A crise não afetará os investimentos diretos, mas poderá ter efeitos catastróficos no fluxo de investimentos em carteiras (de papéis) para os países emergentes, por seis meses ou um ano."
No caso do Brasil, a avaliação soa correta, ao menos no que toca ao investimento direto, que é em tese é o mais saudável. Como a Folha já informou, a ministra Dorothéa Werneck (Indústria, Comércio e Turismo) saiu da Europa com garantias de investimentos de várias megaempresas.
É claro que se pode suspeitar de mera propaganda, uma maneira de demonstrar que o Brasil não será afetado pelo episódio mexicano.
Mas a Folha foi testemunha ocular do empenho com que o presidente do Conselho de Administração da Volkswagen, o espanhol José Lopez de Arriortua, cercou Dorothéa. E, nas conversas com os jornalistas brasileiros, tampouco escondeu entusiasmo com o país.
Quanto aos investimentos em papéis, não adianta dizer que o Brasil não é o México e que suas condições macroeconômicas são bem melhores. São mesmo. Mas o perfil do investidor mudou muito. Hoje, há uma multidão de pequenos poupadores que delegam aos fundos de investimento a aplicação de seu dinheiro. Não querem saber de detalhes como esse de o Brasil não ser o México.
Esses vão se retrair mesmo, ao menos por algum tempo. Os mais sofisticados vão ficar pendurados nos desdobramentos da crise, à espera de uma eventual segunda onda sísmica: a quebra de quem se endividou em dólares e, com a desvalorização do peso, viu a dívida aumentar da noite para o dia em cerca de 45%.

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