São Paulo, sexta-feira, 3 de fevereiro de 1995
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Recuo de tropas causa impasse

FRANCISCO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

A extensão de uma zona desmilitarizada a ser criada era ontem à tarde um dos principais pontos de discordância entre Peru e Equador nas conversações de paz que se desenvolvem no Rio.
As negoiciações são mediadas por Brasil, EUA, Argentina e Chile, os avalistas do protocolo que demarcou a fronteira entre os dois países em 1942.
O diplomata brasileiro Antonio Simões, assessor de imprensa das conversações, confirmou que um dos impasses é sobre a extensão da zona neutra que seria a ser demarcada na fronteira após a implementação de um cessar-fogo.
Segundo as agências internacionais, o Peru sugere uma faixa desmilitarizada de 4 km de largura, enquanto o Equador propõe uma área mais estreita, que não passaria de 1 km. A extensão da área determinaria o quanto cada país deverá recuar suas tropas no momento do cessar-fogo.
O Peru exige que as tropas equatorianas na fronteira recuem antes de qualquer acordo. O Equador condiciona qualquer decisão sobre a retirada de tropas à aceitação de um cessar-fogo.
pela manhã , o chanceler interino do Brasil, Sebastião do Rego Barros, disse que as negociações do Rio terminariam ontem à tarde, com ou sem resultados positivos.
Isso foi interpretado como um " ultimato diplomático". Caso não houvesse acordo, as conversações do Rio seriam suspensas e o caso seria levado à OEA (Organização dos Estados Americanos).
Às 17h30, Rebo Barros convocou jornalistas para dizer que o prazo dado pela manhã não tinha mais validade. Segundo ele, Peru e Equador haviam apresentado contrapropostas ao que fora proposto na madrugada de ontem pelos países avalistas e seria necessário um tempo indeterminado para análise e negociação dessas propostas.
Além da trégua e da criação de uma zona desmilitarizada, discute-se nas conversações o envio de observadores militares neutros para fiscalizar o cumprimento do acordo e a abertura de conversações para reestudar a fronteira entre os dois países.
Peru e Equador estão em guerra não-declarada desde 9 de janeiro, por divergências sobre um trecho de 78 km de sua fronteira de 1.600 km. A atual fronteira foi demarcada em 1942 pelo Protocolo assinado no Rio com o aval de Brasil, EUA, Argentina e Chile.
No meio da tarde de ontem era grande o pessimismo entre os negociadores sobre as possibilidades de acordo. " Ainda há uma tênue esperança de um resultado positivo" disse Aroldo Muñoz, embaixador do Chile no Brasil.
Às 15h30, o porta-voz da delegação equatoriana, Santiago Aguilar, chegou a prometer uma declaração unilateral, que não saiu.
O clima parece ter mudado com a chegada das contra-propostas vindas de Lima e Quito. Na madruga de ontem, pela primeira vez os representantes do Peru e do Equador participaram de reuniões conjuntas com os países avalistas.

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