São Paulo, segunda-feira, 6 de fevereiro de 1995
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A moeda real

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES

SÃO PAULO — Com os índices decrescentes de inflação nos últimos meses —que culminaram com uma taxa em São Paulo que não se tem notícia há décadas— o plano arquitetado por Fernando Henrique Cardoso e sua equipe econômica vai superando olimpicamente as acusações do período eleitoral.
Classsificado pelos adversários de eleitoreiro, uma segunda edição do Cruzado, cujo intuito seria simplesmente eleger o novo anti-Lula, o real, ainda que evidentemente planejado para repercutir nas urnas, demonstra resultados surpreendentes.
Mesmo os que acreditavam na capacidade do plano de interromper o delírio da maior inflação mundial, guardavam lá suas suspeitas quanto ao comportamento dos agentes econômicos, uma vez definida a eleição.
Ninguém, nem mesmo os economistas que simpatizavam com o real, foi capaz de prever para estes meses da virada de 94 para 95 taxas tão reduzidas.
São conhecidos os efeitos colaterais da receita aplicada até aqui. A defasagem cambial e o risco de déficits comerciais crescentes já assumiram o papel de fantasmas de plantão, à sombra do desastre mexicano.
Da mesma forma, eventuais derrotas do governo no encaminhamento das reformas constitucionais podem estremecer a performance da nova moeda. Mais ainda, podem levá-la à beira do abismo. Uma coisa porém parece certa: a memória inflacionária vai se dissipando do dia-a-dia da sociedade.
A sensação de perda diante da redução das taxas de fundões e poupanças e a impressão do lucro fácil com aumentos descontrolados de preços vão ficando para trás.
Há uma crescente adesão social à idéia de estabilização. E é esse fator, mais do que qualquer outro, que pode levar o governo a conseguir no Congresso aquilo que precisa. E que pode, enfim, fazer com que esta moeda ainda virtual torne-se, de fato, real.

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