São Paulo, segunda-feira, 6 de fevereiro de 1995 |
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Tempo de símbolos
CARLOS HEITOR CONY RIO DE JANEIRO — Num franciscano despojamento, FHC ameaçou devolver ao erário nacional 25% de seu salário. Deveria despojar-se de 100%, não em favor de nossas abastadas burras públicas, e sim do sofrido governo mexicano, sem caixa para pagar o capital especulativo que está dando o fora da Bolsa mexicana. (Deveria dizer "Bolsa asteca" para não repetir a palavra mexicana, mas acho que os leitores não merecem um "Bolsa asteca" sem mais nem menos, em página nobre de jornal sério).O deputado Roberto Campos considerou simbólica a ajuda de US$ 300 milhões que o Brasil pingará no caridoso pires que os Estados Unidos estão passando pela América Latina. Aprecio os símbolos. Contudo, acho que ajuda simbólica seriam os 100% do salário de um presidente tão virtuoso, tão imune à demagogia. Bem verdade que o salário presidencial foi negociado entre o Executivo e o Legislativo, mas sempre há lugar para Madalenas arrependidas. O desprendimento de FHC é um exemplo nesses tempos difíceis e devemos louvá-lo. Quem não merece ser louvado é o cronista. Recebeu do senador Eduardo Suplicy quilométrico fax dando conta de que, como membro do PT, ele não está omisso no caso da ajuda que o Brasil pretende prestar ao México. Semana passada, acusei o PT de omissão. Vejo agora que o senador Suplicy cumpriu sua obrigação com objetividade. Solicitou explicações ao governo e exigiu a presença dos ministros da área econômica para dar informações ao Congresso, tal como mandam a decência e a Constituição. Peço desculpas ao senador. O PT anda tão omisso, tão em cima do muro tradicionalmente ocupado pelos tucanos, que nem mesmo a atitude oposicionista de um de seus senadores teve a repercussão merecida. Continuo achando que o PT tem o dever de fazer mais e melhor. O governo está sem oposição e descambou para a galhofa. O pronunciamento presidencial da última sexta-feira foi realmente hipócrita. Aliás, retifico: com a revisão nas concessões dos canais de rádio e TV, parece que teremos a insuspeita oposição do ACM. É alguma coisa. Texto Anterior: Sexo, violência e religião Próximo Texto: Itamar Franco: dramas sem glória Índice |
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