São Paulo, terça-feira, 7 de fevereiro de 1995
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Último Hawks discute a traição

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

"Rio Lobo" (Bandeirantes, 13h30) é considerado normalmente o mais fraco dos faroestes de Howard Hawks. É possível que seja: a comparação com os outros trabalhos do diretor no gênero é árdua para qualquer filme.
Daí à subestimação geral vai uma distância considerável. A história diz respeito a dois oficiais que se enfrentam durante a Guerra de Secessão. John Wayne, "yankee", e Jorge Rivero, sulista.
Durante a guerra, Rivero comanda a ação de roubo de um trem da União que está sob a responsabilidade de Wayne. O roubo só é possível graças à ação de um traidor. Após a guerra os dois homens se encontram e tornam-se amigos. Seu inimigo comum será o traidor em questão.
O filme é cortado em duas partes. A primeira, durante a guerra. A segunda, o pós-guerra. Essa fratura, inusual no cinema de Hawks, opera uma curiosa duplicação do filme. Ao mesmo tempo, ele mostra a história (a guerra) e suas condições (os homens).
Num primeiro momento, separa os homens geograficamente (o norte, o sul). No segundo, distingue-os pelo caráter: há os honrados e os traidores, cada qual com seu destino.
É verdade que a primeira parte é bem mais forte. Toda a ação de assalto ao trem é antológica, de uma construção ao mesmo tempo rigorosa pela engenharia e irônica (há um conflito entre a grandeza da operação e seu desenvolvimento quase cômico).
A segunda, menos memorável, é uma variante dos temas desenvolvidos em "Onde Começa o Inferno" (1959) e "Eldorado" (1967). Filme de crepúsculo, "Rio Lobo" acrescenta a eles uma reflexão nada desprezível sobre a velhice. É um digno Hawks.
(IA)

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