São Paulo, terça-feira, 7 de fevereiro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Alô, sr. ladrão

LUIZ CAVERSAN

RIO DE JANEIRO — Não resta dúvida que a finada, mas não enterrada, Operação Rio —afinal, sem o Exército e sem uma reformulação total das polícias locais, volta tudo ao que era— estimulou a criatividade e o talento da criminalidade local.
Veja um exemplo: uma cidadã tem seu carrinho roubado. Nada de mais, apenas um modelo básico, ano 88, avaliado em cerca de R$ 7 mil.
Pois bem, diante das buscas infrutíferas junto a delegacias, a cidadã resolve colocar um anúncio em jornal oferecendo recompensa pela devolução do veículo.
Boa idéia: no mesmo dia liga um homem que diz ser o interceptador do carro, roubado por sua encomenda, mas em desacordo com o que ele queria (estava a fim de uma mercadoria mais nova...).
O tal homem diz que devolve o carro mediante o pagamento de R$ 800, marca local de encontro etc. "Mas nada de polícia, senão vai se arrepender", ameaçou.
Como cidadã ciosa de suas obrigações, a proprietária do carro procurou a delegacia correspondente. Sabe o que ouviu do delegado: "A gente não pode fazer nada. Só tem eu, o escrivão e um policial aqui. Não dá para sair atrás de bandido".
Diante da insistência da proprietária do carro, que pedia pelo menos o registro da ocorrência —tentativa de extorsão—, o delegado disse que não seria possível. "Não há provas", finalizou.
Depois disso, a proprietária do automóvel desistiu de polícia. Aguarda novo contato do ladrão, de quem espera atendimento mais adequado.

Você sabe qual é a semelhança entre ex-Iugoslávia, Turquia, Polônia, Colômbia, Argentina e Venezuela? Todos esses países —assim como pelo menos outros 25 do chamado Primeiro Mundo— têm mais telefones por habitante do que o Brasil.
O Brasil, segundo estatísticas internacionais, possui apenas 6 telefones para cada grupo de 100 habitantes. Na Suécia, o país mais bem servido, há 70 telefones para o mesmo número de habitantes. Na Grécia há 40 e na Argentina, 11.

Texto Anterior: Rolling Stones e a covardia
Próximo Texto: Literatura explícita
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.