São Paulo, quinta-feira, 9 de fevereiro de 1995
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Almoço grátis?

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO — Na véspera do lançamento do Plano Cruzado (fevereiro de 1986), passei a tarde toda no escritório paulista do deputado Delfim Netto (então PDS, hoje PPR-SP). Mal conversamos, porque Delfim não saía do telefone, passando informações, mais do que recebendo-as.
Dessa tarde, ficou na minha memória, até hoje, uma das frases do deputado: "Se inflação não tem causa, então o plano vai dar certo". Não deu, como se sabe.
Essa frase volta à memória porque parece aplicável ao Plano Real. O que foi feito até agora, em matéria de combate à inflação? Nada, além de trocar de moeda, substituindo 2.750 unidades da anterior por uma unidade da nova. Só.
O resto é, por definição, conjuntural: moeda artificialmente sobrevalorizada, juros excessivamente elevados e controle orçamentário na boca do caixa, sem nenhuma providência estrutural que impeça o déficit.
Parece, no entanto, que o real funciona. Já faz sete meses que a inflação está baixa e não há ninguém, que eu saiba, que imagine um estouro para o futuro imediato.
Será que mestre Delfim estava enganado em 1986 e a inflação não tem causas? Ou sua única causa é a tal de inércia inflacionária, quebrada pela troca de moeda?
Será que estão errados todos os que vivem dizendo que "não há almoço grátis"? No caso do real, a estabilização até agora saiu de graça: os mais pobres deixaram de pagar o brutal imposto inflacionário, não houve recessão, os assalariados ganharam duplamente, com o crescimento do nível de emprego e com o aumento do poder de compra, em função da derrubada da inflação.
Quanto aos empresários, não consta que estejam passando grandes dificuldades. Os banqueiros, que o próprio FHC, durante a campanha, disse que seriam as vítimas da estabilização, viram seus lucros aumentar, como demonstrou reportagem da Folha no domingo.
Se era tão fácil e gostoso, por que não fizeram antes? Ou será apenas mais uma miragem?

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